“Charles tomou uma punição. Você é o campeão”. Foi assim, durante a entrevista pós corrida que Max Verstappen soube que ficou com bicampeonato mundial após vencer o GP do Japão. O holandês já tinha sido entrevistado pelo ex-piloto Johnny Herbert, como vencedor do GP, e foi chamado novamente para ser comunicado do título e dar as primeiras palavras. “Incrível. É especial ganhar aqui, na frente do povo japonês”, disse, de surpresa, pouco antes de cair nos braços da equipe para comemorar a notícia.
Foi uma maneira estranha de ser campeão, mas que pareceu adequada para uma corrida que foi totalmente caótica. Teve chuva, trator na pista, suspensão da corrida, barbeiragem de Leclerc e finalmente a consagração de Max, ao que o jornalista italiano Tancredi Palmeri tuitou ser um dos momentos mais estranhos de todos os tempos entre os esportes de elite.
A corrida começou sob chuva, mas, na visão da direção de prova, não forte o suficiente para declarar a obrigatoriedade de pneus de chuva. Os pilotos arriscaram sair de intermediários, apostando na melhora do asfalto, mas Sainz acabou abandonando, ainda na primeira volta, após escorregar e bater.
A direção de prova colocou rapidamente o Safety Car na pista, mas errou feio ao autorizar a entrada de um trator para retirar o carro de Sainz. A visibilidade era muito baixa, agravando o risco de um acidente. Em 2014, na mesma pista de Suzuka, Jules Bianchi bateu em um destes tratores-guindastes, entrando em coma, e morrendo em julho de 2015. Amigo de Bianchi, Pierre Gasly ficou revoltado ao se deparar com o trator, 8 anos depois. Ele havia parado para trocar pneus e a asa dianteira e vinha em grande velocidade para chegar ao final do pelotão. “Que p* é essa? É inaceitável”, disse, aos gritos, pelo rádio.
A corrida foi suspensa com bandeira vermelha, na volta 3, até que houvesse condições de correr. Foram duas horas de espera, e a prova foi retomada, com apenas 40 minutos de disputas. Entrou em cena outra pitada de caos. A prova daria 100% dos pontos ou só uma parte, já que nem todas as voltas seriam cumpridas? No final do GP descobrimos que a FIA decidiu distribuir todos os pontos.
Verstappen fez a parte dele e venceu, sem sustos. Foi a 32ª vitória dele, igualando Fernando Alonso. Já Leclerc, na chicane final, acabou cometendo uma barbeiragem, saindo da pista e cortando por dentro da chicane – a mesma que fez com que Senna perdesse o título mundial de 1989 para Prost. Ele voltou na frente de Pérez, fechou o piloto mexicano que vinha mais rápido, e cruzou em segundo. Mas a direção de prova investigou essa manobra e terminou punindo o monegasco com 5 segundos, o que o fez cair para a terceira colocação, exatamente o que precisava Verstappen para ser campeão neste domingo. Essa decisão só saiu quando os pilotos já estavam fora do carro, depois que Verstappen já tinha dado a entrevista de vencedor da corrida, como dito no começo deste texto.
Com o bicampeonato em Suzuka, Verstappen se junta a Lewis Hamilton, Sebastian Vettel, Fernando Alonso, Michael Schumacher, Mika Hakkinen, Ayrton Senna, Alain Prost, Jack Brabham, Juan Manuel Fangio e Alberto Ascari, todos bicampeões no Japão.
A F1 volta no GP dos Estados Unidos, já sem o peso de uma disputa por título.