Que carros o Brasil importa da Argentina e o que pode mudar na relação após eleição de Javier Milei

Relação tende a estremecer, mas se Milei for fiel ao discurso, vai ser pior para eles

Javier Milei, o presidente eleito da Argentina, promete mexer na estrutura do país e nas relações exteriores. Veja abaixo quais carros o Brasil importa da Argentina e também o que pode mudar na relação entre os dois países no mercado automotivo.

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Assim como no Brasil, o parque automotivo argentino é resultado de décadas, e não envolve governo A ou B. Com o tempo e com negociações envolvendo políticos diversos, montadoras de fora, como Volkswagen, Ford, Fiat, Honda, entre outros, foram chegando ao país vizinho e se estabelecendo como referência local. Viraram também âncoras regionais, fornecendo modelos a países vizinhos, como o nosso.

O Brasil exporta para a Argentina modelos feitos aqui, mas importa dela outros. Muitas pessoas nem percebem que um modelo é feito no país vizinho por causa do livre comércio estabelecido entre os países membros do Mercosul. É como se o modelo fosse fabricado aqui. Mas quais carros são fabricados lá e comprados aqui?

Atualmente, 10 modelos de carros fabricados por 7 montadoras na Argentina são importados pelo Brasil: 208 (Peugeot), Amarok e Taos (Volkswagen), Cronos (Fiat), Cruze e Cruze Sport6 (GM), Frontier (Nissan), Hilux e SW4 (Toyota) e Ranger (Ford). Aliás, a Ford ainda resiste no país vizinho. Quando a Ford deixou o Brasil, levou junto modelos que eram importados pela Argentina, como a Ecosport.

No caminho inverso, o Brasil exporta muitos modelos para a Argentina, alguns que nem nós temos aqui, como o Citroën C3 com motor 1.2 (aqui temos apenas com motor 1.0 e 1.6 aspirados), Jeep Renegade manual (aqui temos apenas versões automáticas) e o Renault Duster Oroch 4×4 (aqui apenas com tração dianteira), entre outros. Na balança, o Brasil importa 202 mil veículos e exporta 137 mil por ano para a Argentina.

Como fica a relação com o Brasil após a vitória de Milei nas urnas?

Javier Milei se vende como um ultraliberal na economia. Afirma que irá privatizar tudo o que está ao alcance, de petrolíferas a estatais de televisão. E essa postura, se confirmada, pode trazer impactos negativos ao Brasil, que perderia competitividade. Mas esse papo de ultraliberal é cascata. O que está em jogo é pura ideologia, como mostraremos abaixo.

Milei afirma que irá esvaziar o Mercosul e ir atrás de relações bilaterais com países alinhados ideologicamente, como EUA e Israel. Isso significa que o Brasil e a China devem perder espaço nas relações, embora hoje sejam parceiros importantes. Ao mesmo tempo, os acordos bilaterais com outros países podem fazer com que a Argentina encontre formas de comprar carros mais baratos do que o brasileiro. E isso não é uma grande vantagem lá.

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O Mercosul é uma forma de proteção para os países envolvidos. A relação entre eles mantém minimamente uma possibilidade de ganhos e perdas conjuntas, mais de ganhos do que de perdas. Uma das maneiras de manter o bloco ativo é criar barreiras para quem é de fora. Na prática, criar protecionismo, impondo taxas de importação para países de fora do bloco.

Um exemplo de como o livre comércio de vizinhos não é um bom ponto para o Brasil é o que ocorre no Chile. Lá, não existe produção local nem barreiras para importação. Com tanta facilidade, 60 marcas estão presentes no país, mas a participação brasileira é mínima, já que nossos carros chegam lá por um valor maior do que a concorrência, por exemplo, de veículos asiáticos.

Por causa do discurso de Milei, os países membros do Mercosul correm contra o tempo para aprovar um acordo com a União Europeia, antes da posse do novo presidente. A ideia é que quando ele tome posse não seja mais possível reverter a decisão, que se arrasta há anos. Por outro lado, a UE pode ver nisso uma vantagem para negociar pontos a seu favor. Não se sabe, ainda, se o possível acordo irá tratar da venda de carros entre os dois blocos econômicos.

Por outro lado, se a Argentina abrir muito o seu mercado, poderá comprometer o seu próprio parque automotivo. Se os carros importados inundarem o mercado local, as fábricas argentinas perderão competitividade e o resultado disso é desemprego. Portanto, o discurso de Milei parece ser mais eleitoreiro do que prático. Os crônicos problemas econômicos argentinos vão muito além das relações comerciais construídas nas últimas décadas.

O Brasil se recupera de uma possível quebra de relação comercial com a Argentina. Ou a gente encontra outro país para exportar, ou enxugamos a produção (com demissões) e focamos nossas vendas para o mercado local, que querendo ou não é um mercado de 2 milhões de veículos vendidos por ano. Já a Argentina, ao criar concorrência local por pura ideologia, pode acabar dando um tiro no próprio pé e aprofundar ainda mais uma crise que ninguém supera. Nem um louco de motosserra na mão.

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