Por que a americana Ford tinha um carro chamado Fiesta?

A Ford queria chamar o carro de Bravo, mas o dono da empresa preferiu Fiesta, que era um nome registrado pela GM. Entenda como foi resolvida essa salada

O Fiesta durou 50 anos na linha mundial da Ford. Ele foi aposentado no Brasil em 2019 e na linha mundial em 2023. Mas porque a norte-americana Ford tinha em sua linha um carro com nome em espanhol? Qual a história do nome do Ford Fiesta?

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A primeira geração do Ford Fiesta em foto de divulgação da época

O Fiesta foi inicialmente um projeto da Ford da Europa chamado internamente de “Bobcat” e lançado em 1976. O objetivo do carro era ser uma opção mais barata ao Ford Escort. Para isso os engenheiros da Ford quebraram cabeça entre 1974 e 1975 para implementar inovações no novo projeto e ao mesmo tempo reduzir o custo.

O marketing europeu da marca sugeriu chamar o veículo de “Bravo”, nome que foi rejeitado pelo dono Henry Ford II na época. Ele escolheu “Fiesta”, festa em espanhol.

O problema: o nome Fiesta era registrado nos Estados Unidos pela GM, que já havia usado a marca como um nome de versão de um carro da Oldsmobile – marca que hoje já não existe mais e que era uma divisão da GM. Ainda neste texto explico como o nome trocou de casa.



E por que o nome em espanhol em uma empresa de raiz norte-americana?

A Ford queria expandir seu mercado na Europa e uma barreira era a penetração na Espanha. Na época que o Fiesta começou a ser desenvolvido a Espanha vivia a ditadura de Francisco Franco.

Na ditadura espanhola o mercado automotivo era extremamente fechado para as marcas que atendiam a exigência de produzir 95% dos itens do veículo no próprio país. Naquela época só duas marcas atendiam a esta exigência: a Renault e a Seat, então controlada pela Fiat em sociedade com grupos da Espanha.

Ainda quando o Fiesta estava em desenvolvimento, em 1972, a Ford convenceu o governo espanhol a relaxar a alta taxa de 95% de nacionalização, com o compromisso de criar uma representação no país com uma fábrica.

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Segundo os jornais de Valência, na Espanha, a negociação da Ford envolveu o compromisso da fábrica naquela região gerar 6500 empregos. A concessão do governo foi mudar a legislação para que a produção nacional fosse de pelo menos 50% dos componentes.

Ford Fiesta ainda em protótipo criado em Clay durante seu desenvolvimento (foto: Acervo/Ford)

Isso obrigaria a Ford a produzir pelo menos os motores no país. Também condicionou que apenas 10% do que era fabricado poderia ficar para venda na Espanha, o que obrigaria a empresa a criar um volume grande de produção caso quisesse ser expressiva naquele mercado.

Assim a fábrica ficou pronta em 1974 e o Fiesta foi o primeiro veículo a ser fabricado em Almusafes, Valência, em 1976, um ano após a morte do ditador Franco e quando a Espanha voltou à monarquia.

O nome Fiesta coroou essa nova fase da Ford na Europa. E como o nome Fiesta, que era da GM, foi parar na Ford? Segundo o site AutoEvolution, que cataloga modelos europeus, a concorrente decidiu simplesmente ceder a marca à Ford. A marca Fiesta não tinha qualquer relevância para a GM, que só a utilizou para batizar versões do Oldsmobile na década de 50.

Oldsmobile Fiesta Convertible, carro que era fabricado pela GM. A foto é da Hyman Ltda.

Fábrica espanhola agora desenvolve elétricos

A partir da Espanha o Fiesta chegou por toda a Europa. A fábrica de Almusafes produziu o Fiesta até 2012. Depois o carro continuou sendo produzido no Brasil (até 2019), na Alemanha (até 2023) e México (até 2018). O modelo chegou a ser fabricado na Tailândia e também na China.

A fábrica espanhola de Almusafes seguiu produzindo o Ford Kuga (conhecido em outros mercados como Ford Escape) e também o C-Max e o Transit Connect.

Atualmente a fábrica é responsável pelo desenvolvimento dos novos modelos elétricos da marca, segundo a Ford.

Publicada originalmente em

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