Fabricar carro já foi como criar um relógio de qualidade. Você juntava peças de diferentes tamanhos e formatos e deixava tudo no mesmo compasso, já que se não houvesse sincronia, não havia máquina. Mas faz muito tempo que os carros ficaram mais complexos do que o mais complexo dos relógios suíços. E isso pode ser um problema. Os carros novos estão tendo mais problemas?
Se antes um automóvel juntava peças de formatos diferentes, hoje ele é um conglomerado de tecnologias de todo o tipo. Há peças de engenharia mecânica, é claro, mas há computação, inteligência artificial, há sensores diversos e, mais recentemente, existem complexas peças elétricas como baterias e motores regenerativos.
No meio desse avanço tecnológico – que deveria ser positivo – pode estar havendo um descompasso e, pior, desconfiança no consumidor. Será que os carros novos estão tendo mais problemas e ficando piores como tempo? Há dados que comprovam que sim.
Todos os anos, a JD Power publica o seu Estudo de Qualidade Inicial (IQS) com dados sobre novas marcas de automóveis. Eles testam 100 carro novos durante os três primeiros meses após a fabricação e com isso fazem uma pontuação e classificação no número de problemas. E os números não são bons para a indústria.
A JD Power verificou que de 2010 para 2021 o número de problemas duplicou. Os números continuaram altíssimos até 2023. A amostragem foi feita com veículos fabricados nos Estados Unidos e os problemas são relatados pelos próprios motoristas. Não há distinção nos relatos. O cliente que relata que o bluetooth não funciona recebe o mesmo peso do que relata que o motor fundiu com 3 meses de uso.
Parte do aumento das reclamações está relacionada com a pandemia de Covid. A produção foi prejudicada principalmente por falta de chips e muitas montadoras acabaram experimentando problemas diversos. Mostramos os carros fabricados pela metade, também a fila de carros aguardando por peças do logotipo que dava para ver do espaço e até carros terminados sem todos os chips.
Não é difícil encontrar relatos que corroborem com a pesquisa. “Meu 4Runner 2021 não tem nem de longe a qualidade do meu 4Runner ou Camry mais antigo. Lascas de tinta saindo com muita facilidade, barulho por baixo, regulador de janela saindo com 15.000 milhas rodadas. A eletrônica também tem problemas”, relata um motorista americano numa rede social.