Maior e mais rica cidade do Brasil, São Paulo vive um impasse que pode atrasar o futuro de sua mobilidade. Está emperrado o projeto de troca da frota de ônibus dos atuais a diesel para os 100% elétricos. Tudo por falta de habilidade administrativa de um prefeito que tenta a todo custo uma reeleição.
Ricardo Nunes (MDB) havia prometido, no plano de metas do governo, colocar para circular mais de 2 mil ônibus movidos a bateria, até o fim de 2024. O problema é que ele ainda não conseguiu dar o start ao plano este ano e parece que não irá conseguir tão cedo.
A prefeitura até comprou e vem recebendo parte da nova frota. Fez uma certa pirotecnia, mostrando 50 veículos zero quilômetro na icônica Praça Charles Miller, em setembro do ano passado. De lá para cá, a frota de elétricos não passou de 84 modelos num universo de 13 mil veículos a diesel. E no que depender de um dos pilares da equação, a conta não vai fechar.
O plano de eletrificação dos ônibus inclui a Enel X, braço da concessionária de energia da cidade focado em projetos do tipo. Havia um acordo de boas intenções entre as partes, mas elas voltaram algumas casas.
Em parte, por causa do embate entre prefeitura e concessionária após um apagão que durou quase uma semana em São Paulo, em novembro de 2023. Candidato à reeleição, Nunes tentou transferir para a empresa o desgaste político do caso. E de lá para cá, os problemas escalaram.
Nunes até conseguiu aliados do legislativo para desgastar a imagem da Enel, criando CPIs e coisas do tipo. Foi até Brasília articular o cancelamento da concessão, sem sucesso. A empresa até trocou seu presidente, vem contornando o caso, mas não cede em um ponto, o de aceitar qualquer modelo para a criação da infraestrutura de carregamento dos ônibus elétricos – o que ajudaria Nunes politicamente.
Encurralado, o prefeito tenta transferir o fiasco da eletrificação também para as empresas de ônibus. O transporte público da cidade é, desde 1995, loteado em dezenas de empresas concessionárias, que operam cada uma a sua fatia, em centenas de linhas que cortam diariamente os quatro cantos da cidade, sob controle da SPTrans, empresa pública municipal que substituiu a CMTC.
Coube às empresas pensar em maneiras de atender suas necessidades para a chegada dos ônibus elétricos. As que tivessem espaço e maior frota, poderiam solicitar infraestrutura maior para as recargas. As que não, poderiam optar por infra menor e mais barata. E na soma dos vários projetos, o valor ficou mais caro do que o previsto inicialmente.
A prefeitura acusa a Enel de cobrar muito acima do que cobraria anteriormente, como que se aproveitando do embate recente. Já a Enel alega que o valor corresponde àquilo que lhe foi solicitada agora no projeto, com todos os desenhos enviados pelas operadoras do transporte. O fato é que o custo da implantação da infraestrutura já ultrapassou a barreira do bilhão de reais – valor que a prefeitura de SP não aceita pagar.
A prefeitura até pode exigir que o projeto fique mais enxuto, diminuindo as estações de recarda, mas será que ele atenderia o público de forma correta? As recargas seriam feitas a contento? Os veículos acabariam fazendo fila nas garagens para serem recarregados? O passageiro poderia contar com o modal ou iria migrar para formas piores de transporte?
A Enel, em nota divulgada em diversos canais, afirma que não é a única operadora do tipo. Ou seja, deixou via imprensa um claro recado de que se a prefeitura não quiser pagar o valor, bastará se dirigir ao guichê da concorrêcia.
A falta de habilidade política de seu atual prefeito poderá custar a São Paulo um grande atraso na eletrificação. Para piorar, é incerto, até mesmo, o atual modelo. No mesmo pacote que previa a eletrificação, a prefeitura proibiu a compra de novos veículos a diesel.
Sem poder comprar ônibus poluentes nem contar com os elétricos, as empresas concessionárias vão manter os ônibus que estão, a cada dia que passa, envelhecendo e poluindo a maior e mais rica cidade do Brasil.