Montadora acaba de passar dos US$ 100 bi de mercado, mas nos EUA.
Um ano após deixar o Brasil sem dar tchau, a Ford perdeu credibilidade e principalmente espaço no mercado nacional, mas coleciona bons resultados nos EUA, onde acaba de passar dos US$ 100 bilhões de valor de mercado.
Desde aquele turbulento 11 de janeiro, muito mudou no nosso mercado. A Ford não era campeã de vendas, mas tinha uma boa fatia. Havia acabado de fechar o ranking anual da Fenabrave em 5º, com 140 mil unidades emplacadas, em meio às dificuldades da pandemia. Mas os 7% das vendas de todo o país e os seus 100 anos de história aqui não eram suficientes, sentenciaram seus executivos.
A matriz da montadora decidiu acabar com suas fábricas no Brasil, mas não com as vendas. Todos os modelos passaram a ser importados e com um novo perfil. Nada de hatchs de entrada como o Ka ou SUVs simples como o Ecosport. No catálogo, picapes médias e grandes e SUVs premium. Com preços tão altos, ela despencou para o 11º lugar, com 37,7 mil vendas, e apenas 1,9% de mercado.
Com a Ford praticamente fora do caminho, outras montadoras surgiram no páreo, como a Chery, que fechou no top 10 anual pela primeira vez em sua história, graças também a um massivo investimento em propaganda.
A Honda, com apenas um carro, o HRV, vendeu mais do que a Ford inteira em 2021. E assim por diante.
Empregos em baixa
Outro ‘legado’ da Ford foi o enxugamento nos empregos na área automotiva. Eles já vinham em baixa, é verdade, mas a Ford deu uma turbinada.
Em janeiro de 2021, mês da saída da Ford, 103,4 mil pessoas trabalhavam nas indústrias do setor. Em dezembro eram 101,1 mil, segundo dados da Anfavea.
A associação das montadoras, no entanto, prevê uma recuperação em 2022, com incremento de quase 10% na produção de veículos.
O encerramento da Ford causou desempregos também em concessionárias. Cerca de 150 fecharam as portas no país, com a diminuição nas vendas. Fora e outros setores da cadeia automotiva.
Ford em alta nos EUA
A Ford acaba de atingir US$ 101,5 bilhões de mercado nos EUA, o equivalente a R$ 560 bi. É o maior valor em duas décadas. Segundo analistas, a montadora soube lidar com o encarecimento das matérias-primas e repassou preços na medida.
Assim, suas ações saltaram de US$ 18 para US$ 25,1. É um prêmio para quem não pensou duas vezes em fechar fábricas pelo mundo. Além do Brasil, a montadora americana deixou o gigantesco mercado da Índia, causando 4 mil demissões.
Futuro por aqui
Apesar da imagem arranhada por aqui, a Ford pretende bombar as vendas de seus modelos importados. O Ford Ranger parte de quase R$ 170 mil, mas é o seu novo modelo de massa, se é que podemos dizer isso.
A montadora pretende ampliar sua gama. Além da Ranger, ela vende atualmente o Ford Territory, o Ford Bronco Sport, o Ford Mustang Mach1 e o Ford Transit, utilitário que é montado no Uruguai.
Devem chegar duas novas picapes: o novíssimo Ford Maverick e também a Ford F-150, o modelo mais vendido nos Estados Unidos por 39 anos seguidos.
Profecia
Viralizou esta semana uma fala de 1999 do então governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, no momento em que a Ford trocava o estado gaúcho pela Bahia, aproveitando-se de uma guerra fiscal típica entre os entes da federação.
Bastante criticado pelos gaúchos por supostamente não fazer todos os esforços para manter a Ford no estado, ele foi lacônico. “Essa empresa quer incentivos fiscais que as nossas [empresas brasileiras] não têm. O dia que achar que o Brasil não serve mais, vai embora e nem dá tchau”. Acertou na mosca.