Sair do Brasil de carro é algo comum para muita gente. Seja para compras, para turismo, para trabalho. Visitar países como Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia e Peru é uma rotina que não apresenta muita dificuldade, já que o sistema viário destes países é muito parecido com o nosso. Mas existe um vizinho em que tudo isso é muito diferente. Visitar a Guiana, no extremo norte do continente, é ser obrigado a digirir ‘na contramão’, e encarar um viaduto de conversão, já que o país adotou a mão inglesa de direção.
A Guiana faz fronteira com o estado de Roraima, sendo a principal rota a cidade brasileira de Bomfim com Lethem, no lado guianense. O rio Tacutu divide os países e uma ponte faz a ligação. Mas ao cruzar a ponte, todo veículo vindo do Brasil cai no chamado viaduto de conversão. Quem está à direita é jogado à esquerda da via. E quem vinha da esquerda na Guiana passa para a direita pouco antes de chegar ao Brasil.
A Guiana já foi uma colônia da Inglaterra mas hoje é um país independente, e não deve ser confundida com a Guiana Francesa, que também faz fronteira com o Brasil, e que nunca deixou de ser teritório europeu, embora esteja na América do Sul. Entre as duas existe o Suriname, outro país independente e que um dia pertenceu à Holanda e já se chamou Guiana Holandesa.
A Guiana é um país muito procurado por brasileiros por causa dos preços baixos. Com uma tributação muito mais baixa do que a nossa e uma grande abertura para importados, o país é invadido por produtos da China – e consequentemente pelos brasileiros consumidores.
Embora esteja independente da Inglaterra desde 1966, a Guiana preserva muito daquele período colonial. O idioma oficial é o inglês e o sistema de trânsito, como vimos, também é herança do país europeu.
Ao entrar no país, é preciso se acostumar com toda a linguagem reversa. As placas estarão à esquerda da via, as rotatórias serão no sentido horário, etc. Para os que não possuem experiência, a direção se torna difícil.
Por que existe a mão inglesa?
Do mesmo jeito que nos perguntamos por que existe a condução à direita do veículo e à esquerda do tráfego em países britânicos, podemos nos perguntar o oposto. Por que dirigir à esquerda do veículo e na via da direita, como no Brasil?
A mão inglesa surgiu muito antes da adoção dos carros. Foram os cavaleiros da Idade Média que convencionaram o uso à esquerda da via. Assim era mais fácil empunhar a espada com a mão direita e atingir o inimigo. A ideia permanceu para os veículos puxados por cavalos e, com a chegada dos carros, na hora de criar o sistema viário, os ingleses não pensaram duas vezes em manter o que já vinha sendo aplicado há séculos.
E por que a mão inglesa não vingou?
Até vingou, mas apenas 35% do mundo a usa hoje em dia. Basicamente países colonizados pelos britânicos continuam até hoje com a mão inglesa, por já terem iniciado o uso lá atrás. O restante do mundo foi ‘na contramão’ dos britânicos por causa de um líder poderoso.
O francês Napoleão Bonaparte decidiu, séculos atrás, inverter o senso dos cavalos por ser canhoto. Lembra da mão que segura a espada? Napoleão precisava deixar a mão esquerda livre para o combate e por isso preferia conduzir seu cavalo à direita da via. E pegou.
O Brasil, que não foi colonizado nem por ingleses nem por franceses, acabou indo mais na onda comercial. Os primeiros carros a desembarcar aqui vieram dos Estados Unidos, que adotou a mão francesa como gesto de independência total da Inglaterra. Os carros que chegavam aqui tinham a direção à esquerda, então não faria sentido usar outro sistema viário. Foi assim com todos os países mais pobres não colonizados por ingleses. Tivesse a Inglaterra vencido essa guerra industrial no começo e tudo poderia ser diferente.