Você sabia que carros soviéticos já foram assunto no Brasil? No início dos anos 90 a russa Lada foi uma das primeiras montadoras a chegar ao país após a abertura da mercado orquestrada pelo então presidente Fernando Collor.
Turboway localizou jornais da época para recontar parte desta história. No início dos anos 90 o Brasil era dominado pelas quatro grandes: Chevrolet, Fiat, Volkswagen e Ford.
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Entre as marcas que começaram a chegar, a russa Lada assumiu posição de destaque. Por ser uma das primeiras, os modelos Lada eram o que havia de mais diferente nas ruas do país – ainda que fossem mais ultrapassados do que os já ultrapassados carros nacionais.
Para a empresa o Brasil era a aposta para se salvar da situação em seu país natal, que estava mergulhado em dívidas e desconfianças. A União Soviética estava na “corda bamba” e as empresas russas procuravam sua tábua de salvação para não afundar junto com o bloco. Por isso a Lada se arriscou pela América Latina. Chegou ao Chile, ao Brasil e tinha planos de expandir para a Argentina. A grande cartada era ter o carro mais barato por aqui na época, o sedã Laika.
Empresários fujões
O primeiro obstáculo da Lada foi montar a rede de concessionários. Segundo entrevista do então executivo da empresa, Martin Rodin, ao jornal OGlobo em 17 de dezembro de 1990, a Lada já tinha uma série de compromissos firmados com empresários para o lançamento de uma rede de concessionárias.
Esses empresários teriam sido convencidos a desistir do negócio por outras montadoras. Segundo o então presidente da Lada, as marcas ofereceram bônus e carros extras para que grupos não fechassem o negócio com a Lada.
Carros subsidiados
A empresa também sofreu acusações da associação das marcas. A principal é de que estaria praticando “dumping” no Brasil. Dumping é a prática de vender um produto por preço abaixo do valor de mercado. O sedã Laika chegava mais barato do que carros populares como o Gol e segundo as marcas isso acontecia porque o carro tinha parte de seu preço custeado pelo governo soviético.
Super carroças
Outra questão é que a abertura de mercado conduzida pelo governo Collor tinha a bandeira de trazer carros mais tecnológicos ao país. Collor disse na ocasião a famosa frase que “os carros brasileiros são carroças”. A crítica é que a Lada estava trazendo mais carroças ao país.
O Laika, por exemplo, era um projeto adquirido da Fiat nos anos 60. Ou seja, o Laika era novidade no nosso mercado, mas na prática era um avô do Uno, que no Brasil era seu concorrente na época. A Lada refutava essa acusação, alegando que tinha sim produtos de primeiro mundo, como o Samara, que segundo a empresa tinha um protocolo de desenvolvimento compartilhado com a alemã Porsche.
Planos ambiciosos
Nada do que se passou antes impediu a Lada de ter planos ambiciosos. Em 1991 instalou seu escritório em São Paulo, na Avenida Sumaré, segundo o site Automotive Business, que detalha que a rede chegou a ter 126 lojas e uma central de distribuição em Barueri, para onde os veículos iam após desembarcar no Porto de Santos.
A meta era chegar a algo entre 14% e 20% de mercado até 1995 e havia até mesmo a possibilidade de construir uma fábrica no país. Talvez isso tenha sido o mais próximo que o Brasil chegou de ter uma “invasão comunista”. Brincadeiras a parte, a conta não fechou e o fim da União Soviética em 1991 só fez o cenário piorar.
A Lada não conseguiu chegar bem à 1995. O cenário ficou instável para os importadores de veículos porque havia uma dezena de empresas importando carros e isso começou a gerar um grande problema à indústria nacional. O governo então aumentou o imposto de importação e a Lada sucumbiu.
Além do Laika, a Lada trouxe ao Brasil o lendário jipe Niva que enfrentava o Toyota Bandeirante, a perua Laika e o Samara.
A Lada ainda existe. Nos anos 2000 ela foi adquirida pela Renault, que teve que desfazer da empresa esse ano por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia. A Renault ainda tem preferência para readquirir a empresa nos próximos seis anos. Por enquanto ela está com as atividades paralisadas devido à falta de insumos. Continua sob gestão do governo russo e ainda tem o Niva em sua linha.