Uma CNH original preenchida com dados falsos foi um dos documentos que permitiu que o cidadão russo Sergey Vladimirovich Cherkasov trocasse sua identidade e passasse a viver por anos no Brasil sob o nome falso de Victor Müller Ferreira. Documentos obtidos com exclusividade por Turboway apontam que esta CNH pode ter origem em um grande esquema de falsificações descoberto em 2014 em Goiás.
Sergey Vladimirovich Cherkasov, de 33 anos, é apontado pela Justiça brasileira como um funcionário do serviço secreto da Rússia que nos últimos 14 anos fez do Brasil sua base para obter informações do ocidente que poderiam ser de interesse de seu país. Ele foi descoberto e preso em abril de 2022, após tentar entrar na Holanda com um passaporte brasileiro. Nesta época ele já era monitorado pelo FBI e sua entrada foi recusada pelos holandeses. Na volta ao Brasil ele foi preso no aeroporto de Guarulhos.
A CNH que estava com ele no dia da prisão apontou que o documento pode ter origem em um grande esquema de falsificações de CNHs que foi descoberto há dez anos em Goiás. Segundo informações do G1 naquela época, dados falsos eram inseridos no sistema Apesar de o esquema ter sido desmantelado, até hoje não se tem conhecimento sobre todos os documentos que foram emitidos de forma fraudulenta. Assim, a CNH do russo era considerada como um documento válido até o momento de sua prisão.
CNH teve troca de foto no Rio de Janeiro
Segundo o investigado pela Polícia Federal, Sergey Vladimirovich Cherkasov entrou inicialmente no Brasil como turista e em pouco tempo assumiu a identidade de Victor Müller Ferreira, filho de uma brasileira com um cidadão português. Victor, no entanto, nunca existiu.
A CNH em nome de Victor foi emitida pelo Detran de Goiás em 2012, mas nem a foto, nem a assinatura eram de Sergey. Através de identificação facial foi possível concluir que quem aparece na foto é um homem chamado Wladimilson. A polícia não concluiu como a foto deste outro homem foi parar no documento em nome do inventado Victor.
Sergey começou a utilizar o documento goiano só em 2015, quando houve um pedido de transferência do documento goiano para o Detran do Rio de Janeiro. Nesta mudança a foto foi trocada. Saiu o homem moreno para a entrada de Sergey, que é loiro. A Polícia desconfia que quem dava suporte à Sergey no Brasil tenha contratado serviços de uma quadrilha que atuou para criar o documento original com informações falsas.
Russo comprou Honda Fit usado
Foi com este documento que Sergey transitou por São Paulo e Rio de Janeiro se passando por Victor. Ele, que se diz apaixonado por motos, chegou a adquirir um Honda Fit usado. Turboway teve acesso às multas que o veículo recebeu enquanto estava com o russo. Elas são por infração ao rodízio em São Paulo.
A compra do Honda Fit envolveu dinheiro que Sergey recebeu em sua conta bancária. Porém, segundo a polícia, ele não tinha uma ocupação no Brasil. Parte do dinheiro era depositada para ele no Brasil e parte vinha de uma conta no exterior. Essas quantias não foram declaradas e esses fatos acabaram municiando um novo inquérito contra ele, de lavagem de dinheiro.
CNHs para alguém que não existe
Segundo as investigações, Sergey chegou a tirar uma nova CNH em 4 de fevereiro de 2022, mas desta vez no Detran de São Paulo. Novamente era uma CNH real com informações falsas, mas com uma diferença. Diferentemente do caso de 2012 em Goiás, quando o cidadão Victor foi criado dentro do sistema, o documento de São Paulo foi produzido de forma oficial, já que os documentos anteriores serviram para que ele criasse um RG e um CPF válidos.
Em 2016 o cidadão russo conseguiu emitir uma licença para dirigir na Irlanda usando seu passaporte brasileiro, também criado de forma oficial. Na época ele se identificava por lá como um estudante brasileiro. Já em 2021 ele obteve uma licença para dirigir no estado norte-americano da Virgínia. Nesse caso ele também usou os documentos brasileiros com dados falsos nos Estados Unidos e assim também passou a ser investigado por lá.
Sergey está preso desde abril de 2022. Atualmente ele está na penitenciária federal de Brasília cumprindo pena pelo uso de documentos falsos. Ele aguarda uma decisão da justiça brasileira para ser extraditado de volta à Rússia, que nega que ele seja espião e diz que na verdade Sergey é um traficante.
Para a Justiça brasileira Sergey diz que não é um espião e que quer ser mandado de volta para a Rússia. Sobre como conseguiu uma CNH com dados falsos ele diz não saber. Em depoimento ele disse que no período de emissão de alguns destes documentos ele estava vivendo fora do Brasil.