Em funcionamento desde o fim de 2024, o porto de Chancay virou um novo marco do comércio entre a América do Sul e a Ásia. Virado para o Oceano Pacífico, o porto instalado no nosso vizinho Peru promete trazer desenvolvimento à região e muitos, mas muitos carros chineses.
No Peru já tem até slogan: “De Xangai a Chancay”, é o que estampa a imprensa local, em referência a ligação com o porto de Xangai, o mais ativo do mundo, em toneladas transportadas, e que tem ligação marítima aberta com o novo porto sul-americano.
O presidente chinês Xi Jinping inaugurou o porto peruano em novembro de 2024, dias antes de vir ao Brasil para uma reunião do G20. O investimento foi todo chinês, por meio da empresa local Cosco Shipping Company. O valor? US$ 3,4 bilhões – cerca de impressionantes R$ 21 bilhões na cotação atual.
E por que a China colocou tanto dinheiro fora do país? Porque o investimento será rapidamente revertido de volta por meio das importações peruanas – e de vizinhos. O porto a 70 km de Lima tem capacidade de atender aos vizinhos, alguns deles enciumados.
O governo do Chile, por exemplo, não gostou de saber que o Peru, lá atrás, iria receber o investimento. É que o porto chileno de Valparaíso, um dos maiores do Pacífico tenderia a ficar subutilizado. De fato, companhias chilenas já estão embarcando e desembarcando em Chancay.
O Brasil é outro que deve encurtar o percurso até a China. A tendência no futuro, assim que novas obras de infraestrutura saírem, é que a longa espera de produtos chineses seja reduzida drasticamente. Mas para isso faltam ainda rodovias ou ferrovias que encurtem a distância do Brasil ao Peru. A rota mais demorada, por mar, está resolvida.
Juan Ortiz, do Observatório de Contexto Econômico da Universidade Diego Portales, no Chile, explica que a tecnologia jogará a favor do novo porto. “Chancay terá vantagens operacionais sobre os outros portos do litoral do Pacífico na América do Sul, devido aos altos investimentos realizados no porto e à incorporação de tecnologias de ponta, que permitirão reduzir os custos e os tempos de operação no porto em relação aos demais da região.”
Carros chineses irão dominar mercados sul-americanos
Uma das várias apostas que os chineses fizeram ao construir o porto será a facilitação nas vendas de carros aos sul-americanos. O Peru, que não coloca amarras tributárias para importação de veículos, já está recebendo modelos chineses, sobretudo os elétricos, aos milhares.
Mas também japoneses como o Toyota Avanza, e o coreano Hyundai Staria, flagrados pelo Turboway durante viagem ao Peru. E mesmo que um vizinho asiático venda para o Peru, a China também irá ganhar dinheiro. É que além de construir o porto, os chineses também estão operando o local, lucrando com qualquer embarque ou desembarque feito ali.