Muitos dizem por aí que todo sucesso teve um começo. Com os carros elétricos, dá para cravar que o sucesso teve um começo curioso. Para que os Tesla Model 3, os Chevrolet Bolt, os Nissan Leaf e os Jaguar I-Pace ocupassem as ruas como ocupam hoje (no Brasil nem tanto, é verdade), muitos caminhões de leite tiveram que sair do papel primeiro, como vamos mostrar abaixo. O Turboway separou uma TurboLista com os primeiros veículos elétricos do mundo e uma pequena cronologia com os modelos mais relevantes para a indústria.
8 – La Jamais Contente (1899)
Como já falamos aqui no TurboLista, os motores elétricos são mais antigos do que os motores a combustão. Portanto, as primeiras criações envolvendo mobilidade e transporte miravam em carros elétricos. Mas as apostas não vingaram por vários motivos. Uma delas, a La Jamais Contente – Nunca Satisfeito, em francês – não foi adiante por causa da dificuldade em armazenar energia e garantir autonomia (mais de 120 anos depois, desafio não superado).
Em formato de foguete, a La Jamais Contente foi criada por uma empresa da Bélgica. Era feita de alumínio, magnésio e tungstênio, todos metais leves, que garantia performance, apesar de a posição do motorista ficar estranhamente acima e não dentro do veículo. Entrou para a história por ser o primeiro veículo a ultrapassar a marca de 100 km/h, em 1899. A empresa seguiu atrás de recordes, mas usando motores movidos a gasolina, já mais baratos.
7 – Wales & Edwards milk float (1951)
A Wales & Edwards surgiu como uma loja de reparos, que foi mudando o ramo de atuação depois da Segunda Guerra Mundial. Decidiu apostar na entrega de produtos de laticínios. Mas saem os cavalos e as tradicionais charretes britânicas e entraram o caminhões movidos por motores elétricos.
O pioneirismo foi tão grande, que hoje, 70 anos depois, empresas como UPS e Amazon estudam como adotar motores elétricos em suas vans de entrega.
6 – MARS II (1967)
Agora o primeiro veículo da lista com cara de automóvel. Décadas antes de Elon Musk, o engenheiro Robert Aronsson entendeu que para popularizar a ideia dos elétricos e vendê-los para o grande público seria necessário investir em marketing e atrair o interessa da mídia. Com um motor elétrico na traseira e várias baterias de chumbo debaixo do capô, ele criou o Mars II e conseguiu viajar de Detroit a Washington DC – um trajeto de mais de 800 quilômetros – percurso que foi acompanhado pela imprensa local com interesse.
Para conseguir o feito, Aronsson instalou cinco estações de recarga em hoteis Holiday Inn na rodovia I-94, já que a Mars II tinha autonomia de 200 quilômetros. O modelo carregava 80% das baterias em 45 minutos, um bom número para a época. Porém, foram produzidas menos de 50 unidades. O projeto não foi pra frente porque o carro era lento, pesado, difícil de guiar e, sobretudo, muito caro.
5 – Lunar Roving Vehicle (1971)
Parte do desenvolvimento do carro elétrico se deve à Nasa. Depois do sucesso de colocar o homem na Lua, a agência americana trabalhou em outro objetivo: colocar um veículo guiável em solo lunar. Como na Lua não tem posto de gasolina, foi preciso criar um modelo elétrico do zero. Com ajuda da GM, que desenvolveu os motores e da Boeing, que montou os veículos, surgiu no Alabama os primeiros rovers.
O primeiro Lunar Roving Vehicle foi enviado na Apollo 15 e ajudou a explorar o solo lunar além da capacidade humana, já que os astronautas não podiam caminha para longe da Apollo. Equipado com bateria não recarregável tinha autonomia de 91 quilômetros. E infelizmente não foi projetado para voltar para a Terra. Até hoje 3 rovers repousam sobre o solo lunar.
4 – Gurgel Itaipu (1975)
Agora um exemplo nacional. A Gurgel, por si só, já era uma empresa fora de série, movida a ousadia. Mas o Gurgel Itaipu pode ser chamado de projeto mais audacioso da empresa. Foi o primeiro elétrico a ser desenvolvido na América Latina e contava com um planejamento completo. Os primeiros modelos seria entregues para empresas estatais, a fim de se testar suas capacidades, e em um segundo momento seria colocado à venda para o público em geral.
As baterias seriam oferecidas em forma de leasing. Por uma mensalidade, o motorista poderia fazer trocas de baterias quando fosse conveniente. O financiemento era necessário porque as baterias custavam 25% do valor do veículo e duravam pouco: apenas 800 ciclos, e tinham grandes chances de ficarem ‘viciadas’ logo.
Assim como toda a Gurgel, o Itaipu acabou não prosperando, em parte, pela dificuldade dos elétricos em competir em preços e autonomia (ainda hoje não superados, é bom sempre lembrar), e outra pela falta de apoio nacional.
3 – Peugeot 106/Citroen Saxo (1995)
Depois de muitos anos sem novidades, os carros elétricos começaram a ressurgir na metade dos anos 90. A Peugeot resolveu entrar na disputa e criou seus próprios modelos. Depois de testar em um protótipo do 205, a Peugeot decidiu lançar ao mercado seu 106 elétrico. Com 100 quilômetros de autonomia, mirava o segmento urbano.
Em parceria com a Citröen, que colocou a mesma tecnologia no hatchback Saxo, foram comercializadas quase 6 mil unidades combinadas. Um feito, já que os modelos eram considerados caros. A produção foi encerrada em 2003.
2 – General Motors EV1 (1996)
EV1 foi um novo abre-portas. Já sabendo que não tinha ainda como brigar com os carros a combustão, a GM decidiu criar um modelo futurista, com desenvolvimento em tempo-real, a chamada avaliação de engenharia. Os motoristas serviriam de parte do processo de construção – em outras palavras, cobaias.
Os modelos foram oferecidos por meio de leasing. Os motoristas pagariam um valor e ao final seriam obrigados a devolver o carro. O prazo era de 3 anos ou até 30 mil milhas (48.000 quilômetros), o que viesse primeiro. Quase todos os carros que retornaram foram destruídos, o que levou muitos a acreditar que a indústria do petróleo sabotou o projeto.
Depois do EV1, a GM seguiu o desenvolvimento dos elétricos com a S10 elétrica (1997) e mais recentemente o Bolt, elétrico mais vendido do Brasil em 2019.
1 – Toyota Prius (1997)
Pode parecer uma heresia, mas o primeiro da lista não é um elétrico. Mas o híbrido Toyota Prius serviu para mudar o mindset do público ao apresentar a tecnologia e as vantagens da eletrificação em massa. Por ter um motor elétrico suplementando um motor a combustão, trouxe ao mundo o conceito de economia na prática.
Abriu portas, virou ícone, vendeu e ainda vende em todos os cantos do globo. Se hoje a gente imagina normal um mundo com elétricos, parte disto se deve ao Prius.