Um dos principais jogadores da liga de futebol americano desfila por uma rodovia com seu Ford Bronco cercado por dezenas de policiais. Cena de comercial? Não. Estou falando de uma das perseguições policiais mais famosas da história dos Estados Unidos.
Era o dia 17 de junho de 1994. Dois dias antes tinham sido encontrados os corpos da mulher do ex-jogador de futebol americano O.J Simpson e de um amigo dela.
Simpson era o principal suspeito pelos assassinatos. A principal prova contra o ex-jogador estava em seu Ford Bronco, que tinha sangue das vítimas. O astro do futebol americano foi absolvido em um júri midiático e polêmico, mas foi preso em 2007, mas por outro crime.
Dado o contexto, vamos ao assunto principal que trata este site: carro.
O Ford Bronco
Quando a polícia apontou O.J. Simpson como principal suspeito ele desapareceu e a defesa começou a costurar com a polícia de Los Angeles uma entrega voluntária. Só que não era simples assim.
Simpson não se entregou no horário combinado e a polícia foi até a casa dele. Pois alí descobriu que ele havia se mandado com um amigo, também ex-jogador, chamado Al Cowlings. O meio de fuga: um Ford Bronco branco de duas portas, motor V8, ano 93. Alerta geral em Los Angeles!
O Bronco é um clássico da Ford nos Estados Unidos. Produzido desde 1966, aquele veículo usado por O.J. Simpson era da quinta geração. Não tivemos esse modelo no Brasil, mas a nossa picape F-1000 se aproximava muito do visual desta geração.
Segundo o jornal USA Today esse Bronco foi fabricado pela Ford em março de 1993 e o ex-jogador era seu primeiro dono.
Naquela tarde a polícia rastreou ligações e acabou descobrindo que o fugitivo estava a bordo do Ford Bronco rumo ao sul. Então começava uma perseguição policial de duas horas com vinte viaturas policiais acompanhando o veículo de perto que mudou a história do Ford Bronco.
Curiosamente o lado oposto da rodovia parou para ver a passagem do astro de futebol – e também um criminoso – sendo que muita gente foi para o local com cartazes o apoiando. “Vai, OJ!”, era o que dizia um destes cartazes.
Fuga em baixa velocidade
Durante a perseguição os policiais apenas acompanharam Simpson. Ele acabou preso ao chegar com o veículo em uma casa que também era dele. Pois os registros da época apontam que antes de ser preso os policiais permitiram que ele ainda entrasse no local, fizesse uma ligação para a mãe e bebesse suco de laranja.
Aqui outro contexto: Simpson não era um criminoso comum para a polícia. Era um astro do esporte americano em uma fuga sendo transmitida ao vivo pela TV para o mundo todo. Pois um passo em falso também seria fatal para os policiais perante a opinião pública. A polícia também avaliava como possível o suicídio de O.J. naquela altura.
A história completa de como O.J. Simpson se perdeu e virou um criminoso você pode conhecer assistindo a série “American Crime Story – O povo contra O.J. Simpson”. Atualmente esta série está disponível no serviço de streaming “Star”.
Bronco ficou 25 anos fora do mercado
Já a história do Bronco eu conto aqui. Embora o Bronco fosse um carro com quase 30 anos de mercado, foi a infame perseguição de duas horas de Simpson que marcou mundialmente a história o veículo.
A Ford encerrou o modelo em 1996, mas diz que o episódio que mudou a história do Ford Bronco não tem qualquer relação com a sua aposentadoria.
A Ford conta em seu próprio site que o gosto do norte-americano estava mudando e decidiu substituir o Bronco pelo Ford Expedition. Segundo a Ford foram produzidos 1.148.926 Broncos até o dia 12 de junho de 1996. Então em 2021 o modelo voltou em nova geração, disponível inclusive no Brasil (este abaixo).
E o Bronco do O.J. Simpson?
Neste texto você já leu que o Bronco da perseguição era do amigo de Simpson, Al Cowlings. Foi esse veículo que a polícia apreendeu como prova e tempos depois devolveu ao dono.
Aliás, há um detalhe aqui. Se você assistir a série disponível no Star vai ver que o Ford Branco onde foram encontrados vestígios de sangue das vítimas não é o mesmo envolvido na perseguição. Pois se você não assistiu a série que indiquei acima, alerta de spoiler!
Existem dois Ford Broncos nesta história.
O primeiro, com sangue, era de fato de Simpson e não existe mais. Foi confiscado logo após o crime como prova. A equipe de perícia desmontou o veículo na época e posteriormente ele virou sucata.
O segundo Bronco, o da perseguição, era de Al Cowlings, o amigo de Simpson, também ex-jogador, que era uma pessoa que admirava tanto o astro do futebol que comprou um veículo igual. Pois foi esse o veículo confiscado como prova e depois devolvido ao dono, segundo o jornal USA Today.
Virou peça de museu
Pela dimensão que o caso tomou, Cowlings não voltou a usar o carro. Aqui há outro caso emblemático, segundo o jornal USA Today. Cowlings chegou a vender o carro por US$ 75 mil para um colecionador, que queria não apenas o carro, mas também um conjunto de fotos do veículo autografado pelo dono.
O negócio foi fechado. Só que Cowlings voltou atrás antes da entrega, marcada para 2 de novembro de 1994, um dia antes do início do júri em que Simpson foi absolvido das acusações.
O carro foi parar na mão de um produtor de filmes adultos, que o guardou em um estacionamento subterrâneo e cedia o carro para alguns eventos públicos e para temporadas em museus. Atualmente ele está no museu de crimes Alcatraz, no estado do Tennessee (foto acima).
Fama incomoda a Ford
Aliás, veja que tesouro existe no Youtube: parte da transmissão completa da TV americana do dia da fuga de O.J. Simpson. A paciência ou a curiosidade – ou ambos – vão te levar a querer ver este vídeo.
Fato é que a publicidade dada por Simpson ao Bronco branco incomodou muito a Ford. O trauma foi tão grande que a empresa teve que remarcar o relançamento do carro em 2021 porque depois foi visto que a data escolhida era exatamente a do aniversário de O.J. Simpson.
Na imprensa americana o carro por vezes é chamado como o “infame Bronco de O.J. Simpson”. Ao menos a Ford não tenta esconder a história e chega a mencionar o episódio na parte de seu site que fala sobre o modelo.
Astro do futebol americano vs Copa do Mundo
Há um detalhe nessa história em relação ao Brasil. Embora a história do Bronco de O.J. Simpson tenha ficado mundialmente conhecida, no Brasil o fato não ganhou o mesmo destaque. Pois aqui está o motivo: no mesmo dia que Simpson atraía para si a atenção da mídia norte-americana, começava a Copa do Mundo de 1994, também nos Estados Unidos.
Enquanto a fuga ofuscou o início da Copa do país que não se entusiasma com o futebol original, no Brasil aconteceu o inverso: o futebol não deu margem para uma abordagem mais completa do caso.
Simpson hoje tem 76 anos, cumpriu posteriormente pena por assalto e atualmente está em liberdade.