Dirigir um Citroën Xantia nos anos 90 era como olhar os outros carros na rua como ultrapassados. O hatch chegou com linhas modernas e conforto inigualável em uma época que as marcas se permitiam ousar: a grande novidade era a suspensão, que fez dele um bom carro, mas que colocou um preço nisso com o passar dos anos.
Era o início dos anos de importação de carro no país e a referência de conforto aqui ainda era de carros com padrão abaixo do que se oferecia na Europa. Ao lado de outro francês, o Renault Laguna, o Xantia esbanjava em classe e conforto em meio aos veículos de luxo nacionais da época.
Suspensão revolucionária
O Xantia apareceu na Europa em março de 1993, no Salão do automóvel de Genebra e chegou importado ao Brasil no ano seguinte. Mais de 2 mil unidades chegaram aqui de navio naquele ano vindos da França.
O que fazia o Xantia diferente no conforto era a suspensão, onde a Citroën inovou apresentando um sistema hidropneumático controlado eletronicamente e que estava presente nas versões mais caras do Xantia que chegaram ao Brasil.
A suspensão substituía as molas e amortecedores por um sistema de esferas preenchidas por nitrogênio e tudo isso feito por controle eletrônico.
Segundo a Citroën, essa tecnologia chamada Hytractive II era equipada com sensores e o computador de bordo conseguia programar a condução para um modo mais flexível ou um modo mais esportivo. O resultado na prática: passar pelos desníveis e buracos das ruas brasileiras sem sentir pancadas.
Esse conforto cobrava algum preço do dono. Não apenas no preço do carro, mas alguns cuidados especiais. Primeiro, ao ligar o carro era necessário esperar que o sistema calibrasse antes de engatar a marcha e sair rodando. Muita gente impaciente foi parar na concessionária por causa disso. Aí você sabe, a mão de obra de um sistema assim, novo no planeta, tinha alto custo e nem sempre as concessionárias da época resolviam de fato o problema.
Se você não viveu os anos 90 e não sabe porque os carros franceses ganharam má fama no mercado de usados, lembre-se do Xantia e de sua suspensão.
O sistema Hydroactive II já era uma evolução de um sistema utilizado pela marca de luxo da Citroen, a DS, na Europa. O sistema seguiu sendo aperfeiçoado e foi usado também no sucessor C5 e descontinuado em 2016.
Estiloso e silencioso
Dos importados que chegaram ao Brasil na época, o Xantia era um dos mais estilosos. Quem teve ou tem um Xantia ainda conservado vai lembrar não apenas do conforto, mas da estabilidade do carro e também do silêncio do veículo.
Isso divide as impressões sobre um Xantia em dois momentos. O Xantia novo, uma nave para a época, de um Xantia usado: amigo dos mecânicos. Por isso comprar um Xantia usado requer muito estudo sobre o estado atual do veículo.
Pelo lado bom, o Xantia trazia bancos confortáveis, versão com teto solar, vidros elétricos nas quatro portas, ar-condicionado eletrônico, freios ABS.
Pelo lado sombrio, além da suspensão, os donos atuais reclamam de vazamento de óleo, alguns problemas com embreagem e peças e mão de obra muito caros em relação aos outros veículos da mesma época. O consumo de combustível também é alto. O Jornal do Carro definiu a média do Xantia 2.0 como 6,8 km/l (gasolina).
A versão com motor 2.0, em sua configuração original, pesava 1340kg e acelerava de 0 a 100 km/h em 9,1 segundos e atingia a velocidade de 212 km/h
Segundo dados da Citroën, o carro de de 1.340 kg acelera de 0 a 100 Km/h em 9,1 s, e atinge a velocidade de 212 km/h.
Xantias no Brasil
Segundo o Denatran, existem hoje pouco mais de 6 mil Xantias com cadastro ativo no Brasil. A maior parte (quase 3 mil) são modelos anos 94 e 95.
A maior parte que ainda roda é o Xantia que tem versão de suspensão de controle mecânico. O Xantia com controle eletrônico da suspensão já é uma máquina rara no Brasil. Segundo a Fipe, 14 versões do Xantia foram comercializadas no Brasil até o ano 2000.
Quem tem um Xantia até hoje sabe que para manter o veículo em boas condições não é preciso apenas o convencional zelo do dono, mas também a confiança em um bom mecânico. Quem encontrou esse equilíbrio tem um ótimo carro nas mãos.