Importação para o Brasil respeitará cotas e é contrapartida para bloco europeu tirar taxa para importar café solúvel nacional.
O governo federal anunciou que o carro da Europa pagará metade do imposto de importação para veículos. Em vez dos habituais 35% de taxação, os europeus serão sobretaxados em 17,5% para entrar no país. A medida deverá beneficiar diretamente o segmento premium, que já briga em um faixa de preços onde o céu é o limite.
Acompanhada da queda de 50% na taxação virá um limite de cotas. O Brasil poderá importar até 32 mil veículos por ano de 27 países do bloco europeu. Essa é uma negociação entre Mercosul e União Europeia e os outros países do nosso bloco também terão limitação. A Argentina poderá importar até 15,5 mil unidades por ano, o Uruguai, 1.750 e o Paraguai, 750/mês.
As regras valem para carros a gasolina com qualquer cilindrada e até seis ocupantes, ou motorização até 3 litros para maior capacidade. Os modelos a diesel devem ter motorização a partir de 2,5 litros. Em outras palavras, a abrangência é grande.
Empresas que já importam modelos da Europa vão ser as maiores beneficiadas. De uma hora a outra verão seus preços caírem, a base da canetada. BMW, Volvo, Audi, Mercedes e Porsche devem ver suas vendas crescerem. A BMW fechou o primeiro semestre como a campeã de vendas, mas graças à nacionalização de sua produção, que segue recebendo aportes.
Marcas mais tradicionais, como Volkswagen e Renault poderão ter algum impacto, se decidirem apostar em trazer modelos. Pode haver aí um novo desenho estratégico das montadoras. O mercado europeu anda aquecido, em ritmo de crescimento durante a pandemia.
A medida também premia montadoras que abandonaram o Brasil para trazer modelos importados. É o caso da Audi e da Mercedes, que encerraram operações durante a pandemia e deixaram de fabricar e gerar empregos no país.
Contrapartida curiosa
O acordo não envolve a exportação de modelos do Mercosul, como é de se supor – e como era até pouco tempo com o México, com cotas bidirecionais. Os europeus vão retirar a taxação de café solúvel produzido por aqui. Atualmente, o produto encontra uma barreira de 9% ao entrar no Velho Continente.
Será café por carro. Em outras palavras, o acordo favorece o agronegócio em detrimento ao mercado automobilístico nacional, que se enfraquece.
Taxação zero é o passo seguinte
A queda de 50% na taxa de importação é apenas o primeiro passo. O acordo prevê a redução gradativa da alíquota, até ela ser totalmente zerada, em 2029. Poderemos, então ver a entrada de novos modelos, incluindo de entrada (que na Europa já são bem superiores).
Resta saber até que ponto os europeus irão seguir com a produção e venda de carros a combustão, já que o país entrou em contagem regressiva para a eletrificação total de sua frota. Também há que se esperar se a medida irá favorecer a vinda de carros elétricos ao Brasil ainda que fabricados fora.
Uma coisa é certa. Fabricar carro no Brasil tem sido cada vez mais uma coisa para poucos aventureiros.