Carro caro no Brasil é sinônimo de lucro para montadoras na pandemia

Empresas receberam ajuda governamental, não geraram postos de trabalho e agora se divertem com os lucros.

Os números comprovam. As montadoras aproveitaram os problemas da pandemia para aumentar seus lucros. Elas estão vendendo bem menos carros do que vendiam, mas passaram a lucrar mais. E quem financiou esta conta foi o consumidor que aceitou pagar muito caro por um carro, incluindo nós brasileiros.

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Carro caro no Brasil

Tomamos como exemplo a Volkswagen. A montadora dobrou o lucro dela em 2021, em comparação a 2020, mesmo vendendo 2,4 milhões de carros a menos globalmente. Em 2022, com veículos até 30% mais caros, os números continuam bons. No terceiro trimestre, último balanço até aqui, ela teve 52% de aumento no lucro líquido, chegando a 4,2 bilhões de euros. Lembrando que a gigante alemã ainda sofre com a falta de semicondutores e não está conseguindo entregar carros no ritmo que gostaria. Imagina se estivesse.

A GM é outra que apresentou lucros para seus acionistas. Foram US$ 3,27 bilhões só no terceiro trimestre deste ano. No mesmo período de 2019, antes dos efeitos da pandemia, ela lucrou US$ 2,35 bi.

Teve casos ainda mais surpreendentes. A Renault saiu de um prejuízo de US$ 141 milhões em 2019 para uma previsão de lucro em 2022. E olha que a debandada dela da Rússia a fez perder US$ 330 milhões.

Do ponto de vista empresarial, as montadoras fizeram o papel de casa, acertaram suas casinhas no momento mais difícil e evitaram um colapso. Mas isso significou ter repassado uma parte decisiva para os consumidores: o consumo. E nós consumimos, mesmo gastando, por exemplo, mais de R$ 100 mil hoje por um hatch que custava R$ 70 mil há menos de uma Copa do Mundo. Lembrando que as empresas ainda tiveram ajuda recente do governo federal, que reduziu a alíquota do IPI.

Para piorar, o aumento de lucros não trouxe vantagem em postos de trabalho, pelo menos aqui no Brasil. Segundo a última carta da Anfavea, as montadoras, juntas, empregam hoje 104 mil trabalhadores no Brasil. No mesmo mês, mas em 2019, eram quase 109 mil. Em 2018, 112 mil. Nosso auge foi em junho de 2013, quando 135 mil trabalhadores ocupavam postos em montadoras de veículos, o mesmo mês em que se iniciaram protestos nas ruas e deram início à crise no setor, crise esta que, ao que parece, não tirou o sono de nenhum executivo de nenhuma montadora.

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