O recente corte de impostos da gasolina, somada a uma declaração do presidente do Brasil, vem causando dúvidas em muita gente. Será que o Brasil está mesmo perto de ter a gasolina mais barata do mundo, como disse Jair Bolsonaro?
O preço da gasolina varia no mundo todo por diferentes motivos. Em geral, a maioria atrela os preços ao dólar, como o Brasil. E alguns cobram mais impostos do que outros, a depender da situação econômica do país e dos incentivos que se quer fazer para o uso do carro.
Mas há uma questão fundamental também. Os países grandes produtores de petróleo, em geral, possuem os menores preços. Primeiro porque há farta oferta interna. Segundo porque o parque industrial petroleiro é normalmente todo estatal nestes países. E o terceiro motivo é que, por política interna, não pegaria bem um país que vende petróleo para países de fora cobrar muito do cidadão local.
Neste contexto, estamos longe dos líderes porque ao mesmo tempo em que somos grandes produtores de petróleo, também importamos o produto, por diversos fatores, entre eles, por causa do tipo de petróleo extraído aqui ser incompatível como o uso interno.
Também não temos controle estatal. Por opção própria, o Brasil prefere que a política de preços seja feita de forma independente pela Petrobras, que se vale de regras internacionais e do preço do barril do petróleo – em dólar. Aqui, o máximo que se consegue fazer, a muito custo, é mexer em impostos, o que foi feito nos últimos tempos.
Mesmo assim, não conseguimos ter, nem de perto, a gasolina mais barata do mundo. Segundo o Global Petrol Price, portal que faz a medição de preços em tempo real, temos o 44º combustível mais barato do mundo, entre 169 países pesquisados. O recente corte do ICMS fez o país subir apenas 3 posições no ranking. O anúncio da semana – de queda de até 12 centavos no litro da gasolina ainda não entrou na conta, mas deve fazer o país ganhar apenas mais uma posição.
Segundo a medição, o preço médio do litro da gasolina brasileira é de 1,12 dólares. É mais caro que os africanos Burkina Faso (1,11) e Togo (1,09), e mais que vizinhos como Argentina (0,99) e Colômbia (0,57). É mais barato, porém, que México (1,15), Japão (1,21), Estados Unidos (1,26) e que toda a Europa – onde historicamente os combustíveis fósseis são mais caros por uma questão ambiental e onde a corrida pelos elétricos é mais avançada.
Onde a gasolina é mais barata no mundo?
No topo do ranking aparece a Venezuela, onde o litro do combustível sai por impressionantes 2 centavos de dólar. O país possui os 3 itens que falamos acima sobre os grandes produtores: política interna do preço baixo, controle estatal de preços e, principalmente, desvalorização em relação ao dólar. A moeda venezuelana derreteu com a grave crise econômica enfrentada nas últimas décadas.
Em segundo na lista está a Líbia, onde o litro sai a 3 centavos de dólar, e depois o Irã (0,05). Em quarto, há um salto de preços: A Síria cobra, em média, 0,28 centavos de dólar a cada litro.
Para o Brasil ter uma das gasolinas mais baratas do mundo, como afirma o presidente, é preciso muito. Para ficar, digamos, entre as 20 mais baratas, e ser uma Arábia Saudita, será preciso diminuir o preço pela metade. O país do Oriente Médio cobra 62 centavos de dólar a cada litro de gasolina.
A julgar pela política econômica verificada atualmente no Brasil, é mais provável que escalemos no ranking por uma desvalorização maior do real frente ao dólar do que por outros motivos. Caso 1 dólar compre 10 reais, por exemplo, chegaríamos no top 20, como fala o presidente. Melhor não…
