Audi A2, o carro de alumínio e com capô lacrado que flopou: ele é único no Brasil

Uma única unidade do Audi A2 está registrada em São Paulo/SP. Carro é raro por custos do projeto da Audi.

Ele é literalmente único no Brasil. Uma única unidade do Audi A2 está registrada no país. Ele foi fabricado na Alemanha em 2001 e está emplacado em São Paulo/SP, de acordo com dados públicos do Denatran. Mas por que só ele?

O modelo é raro por causa de sua história, uma mistura de inovação com falta de juízo que resultaram em uma flopada catastrófica da Audi. Nós já contamos um pouco aqui.

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audi a2
O visual não era ponto forte do Audi A2. A estrutura também não

A Audi é conhecida por sua linha com nomes sequenciais: primeiro com os A4, A6 e A8, lançados em 1994, e depois pelos outros modelos, do A1 ao A8, que chegaram ao mercado em diferentes momentos.

O A2 é, sem dúvida, o maior fracasso entre eles, apesar de ter ficado em linha na Alemanha durante longos 6 anos, de 1999 a 2005. Foram 176 mil vendas, em 4 versões, a gasolina e a diesel. Se vendeu assim, por que fracassou? Porque a conta não fechou.

Acharam que alumínio era uma boa ideia

O Audi A2 era caro de produzir porque a montadora decidiu inová-lo demais. A maior parte da carroceria era de alumínio, assim como algumas de suas peças. A intenção da Audi era nobre: reduzir peso e economizar combustível. De fato, ele era muito econômico. Com 200 kg a menos que os rivais, fazia 33 quilômetros por litro de diesel.



Porém, não é barato produzir veículo em alumínio. Tem o custo da matéria prima e tem o custo fabril. O metro cúbico da folha de alumínio custava na época 34 euros, contra 20 euros da folha de aço. As prensas que trabalham com aço não são as mesmas que operam alumínio. A montadora teve que comprar muitas máquinas e reequipar as linhas de produção, encarecendo o produto final. Restava saber como reagiria o mercado. Se vendesse bem mesmo custando mais, tudo certo.

Alguém compraria carro de alumínio?

Pensando prático: alumínio não combina muito com acidente de trânsito. Imagina como se comportaria um modelo que amassa facilmente como uma lata de refrigerante vazia? É claro que o mercado torceu o nariz com a ideia. Dar uma encostada significaria trocar a peça? A peça de reposição era cara? Era.

Pra piorar, o modelo tinha umas soluções incomuns. Por ser frágil, o capô era lacrado. Pra verificar o nível da água e do óleo era preciso acionar um dispositivo para disponibilizar os níveis na grade dianteira. Ok, nada muito assustador. Mas para trocar uma peça simples no motor era preciso desmontar toda a parte da frente. Pouco prático, sem contar a facada que a oficina ia cobrar pela mão de obra.

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A pá de cal foi mesmo o quanto a Audi quis cobrar por um carro de difícil manutenção e casca frágil: 15 mil euros a mais do que os rivais na Europa. Ele até que vendeu: 176 mil unidades, como dissemos, provavelmente de amantes da marca e interessados em economia de combustível. Mas para dar lucratividade à montadora, faltou vender muito mais. Assim, ele saiu de linha dando prejuízo de 1,4 bilhão de euros, mais de 7 mil euros por unidade vendida.

Desde então, as montadoras europeias pararam de pensar em economia de combustível pra concentrar foco e dinheiro na eletrificação. E a fibra de carbono tem sido a mais usada para a redução de peso – em carros muito caros, é verdade. Dificilmente veremos alguém fazendo o que a Audi fez.

Audi A2: e o Brasil?

Para ele ser sustentável no Brasil, o preço imaginado para importá-lo foi de R$ 60 mil, R$ 20 mil a mais do que o A3 nacional, muito mais potente. Não ia vender.

Por essas e outras, a Audi desistiu de lançá-lo aqui. “Esse carro é uma grande dúvida, porque não há como trazê-lo de modo que seja mais barato do que o A3 nacional. E não será produzido, pois é feito de alumínio, uma tecnologia mais complexa”, diz Jaroslav Sussland, então diretor da Audi à Folha de S. Paulo em junho de 2000.

Sendo assim, um único Audi A2 chegou ao Brasil, como importação independente. Um único interessado quis ter em mãos e desfilar por aí, cuidando muito para não amassá-lo, é claro.

Não se sabe a história completa dele, mas em 2013 ele foi colocado à venda na internet por R$ 58 mil.

O ex-engenheiro chefe do grupo Chrysler, François Castang, disse certa vez que “aço é para carros, alumínio é para aviões e plástico é para brinquedos”. Ninguém pode dizer que não.

Publicada originalmente em

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