“Ram 2500 Rodeo se esgota em 10 horas”; “Acabou! Unidades da pré-venda do VW Taos esgotam em minutos”; “Pré-venda de 1.000 unidades do Novo Jeep Compass Série Especial 80 Anos termina em apenas 48 horas”. Estes são títulos recentes de reportagens que resumem em poucas palavras o momento insólito pelo qual o nosso mercado automotivo passa, o do carro caro e incrivelmente celebrado.
Se por um lado o preço dos veículos ruma para um caminho sem volta em direção ao surreal, na contramão, um batalhão de compradores se acotovela, de olho em ‘promoções’ de lançamento que desafiam a lógica.
Dos três exemplos acima, o veículo mais barato custa R$ 170 mil. É quanto cada um dos mil clientes pagou para ter o Jeep Compass novo. No caso do Taos, cada um gastou R$ 191 mil. E incríveis R$ 438 mil pela Ram 2500 Rodeo. Crise? Que crise?
A alta procura surpreendeu até quem trabalha há anos na área. “Esta notícia impressionante vem para fortalecer a importância de desenvolver um produto com foco no consumidor”, celebrou Roger Corassa, vice-presidente de Vendas e Marketing da Volkswagen do Brasil, uma das empresas que apostam no carro caro.
Carro caro: escalada de preços
Não é de hoje que comprar um carro zero virou passatempo para quem tem muito dinheiro. Se no final de 2013, por exemplo, era possível ter um Uno Mille por R$ 22.540, hoje o modelo mais barato do país, o Renault Kwid Life 1.0 não sai por menos de R$ 45 mil. Nós inclusive alertamos quando os modelos romperam a barreira dos R$ 40 mil.
Fizemos outros alertas. Como quando a Volkswagen, por exemplo, subiu preços de R$ 2 mil em R$ 2 mil desde o começo da pandemia – e da disparada do dólar.
Ou quando a Toyota rompeu a barreira dos R$ 150 mil com o Corolla. E mesmo assim os clientes ficaram felizes com isso. Nem todos perceberam, mas muitos modelos passaram silenciosamente dos R$ 100 mil e fizemos questão de avisar.
Ao mesmo tempo, tem muito cliente preferindo comprar carro por até R$ 50 mil, segundo revelou uma pesquisa. Ou seja, com pouquíssimas opções no mercado, fatalmente ele irá recorrer ao mercado de seminovos. E aí tem outra notícia ruim. A tendência é haver um desabastecimento provocado pela redução de alguns modelos no mercado, causada principalmente pela falta de semicondutores. Os preços já subiram.
Aliás, a queda na produção pode ter causado também um represamento na comercialização. As montadoras não conseguem produzir no mesmo ritmo da procura e o sinônimo disto é inflação – preparem-se porque o céu é o limite para o carro caro no Brasil.
Olhando para os números das pré-vendas, as empresas não devem ter outro sentimento senão o de manter os preços nas alturas. E, claro, abrir mais lotes, na certeza que serão vendidos como água.