Suspensão Bose: a peça do futuro que jamais saiu do papel

Um mundo sem solavancos, quem nunca desejou?

Entusiastas de carros já podem ter ouvido falar na lendária suspensão Bose, que, de tão revolucionária, equiparia praticamente todos os carros de um futuro não muito distante. Quem nunca ouviu falar, vai ver agora que o tal futuro não muito distante chegou, mas o projeto nunca saiu do papel. E você vai entender o porquê.

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O plano era realmente ousado: uma empresa especializada em áudio queria transformar o mercado automobilístico, criando uma suspensão inteligente, que pudesse prever o futuro, antecipando um obstáculo à frente, em vez de simplesmente absorvê-lo o máximo que desse, como vemos até hoje.

Suspensão Bose: primeiros passos

Tudo começou em meados dos anos 1960, quando o americano filho de indiano Amar Gopal Bose começou a se interessar por suspensões. Nessa época ele tinha, um Citröen 1967, que passava mais tempo no mecânico do que com ele, por causa de um constante vazamento no componente. Mas foi só mais de uma década depois, já em 1980, que ele se uniu a colegas do prestigiado Massachusetts Institute of Technology para criar a suspensão ideal.

Naquele momento, Bose já era um empresário de sucesso do ramo do áudio (alguém aí já teve um alto-falante Bose?) e dividia o tempo como cientista. Formado em Engenharia Elétrica pelo próprio MIT, ele seguiu no instituto por décadas, dando aulas simultaneamente à carreira empresarial.



Saem amortecedor e mola e entra o motor eletromagnético: uma revolução que quase saiu do papel

Expertise no assunto, sim

Bose usou de algumas das especialidades de sua empresa de áudio, como amplificação de potência e velocidade de acionamento elétrico e as aplicou em uma suspensão eletromagnética inédita. Foram 24 longos anos de estudos e 100 milhões de dólares gastos até se chegar a um protótipo, em 2004.

Em vez do conjunto mola, amortecedor e bandeja, a suspensão tinha um motor eletromagnético linear. Este, por sua vez, contava com a ajuda de sensores, que antecipavam o obstáculo à frente e moviam, em milissegundos, as rodas para cima ou para baixo, mantendo o veículo quase que 100% estável. Instalado na traseira do veículo, estava um então poderoso processador Pentium III, top de linha na época, que fazia o serviço sujo de calcular tudo no tempo certo.

Suspensão bose
O Jaguar de suspensões comuns saiu traumatizado do teste feito na apresentação, em 2004.

A apresentação impressionou a todos. Equipado em um imponente e luxuoso Lexus, a suspensão ativa funcionou maravilhosamente bem. Ou seja, estavam todos diante de um projeto revolucionário, que realmente faria a diferença para o cidadão comum.

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À primeira vista, o sistema era mesmo perfeito. Além de evitar os solavancos, ela ainda regenerava a energia gerada pela movimentação das rodas. Assim, o sistema consumia 1/3 da energia de um ar condicionado veicular. Era claramente um tremendo sucesso técnico. Mas então por que não deu certo?

Eu ouvi falar em preços?

Não deu certo simplesmente porque era muito caro e sobretudo muito pesado para ser aplicado imediatamente nos carros de passeio. Adicionaria 90 kg ao veículo, uma taxa de quase 10% no peso dos carros menores, algo impensável nos dias de hoje, em que a economia de combustível é levada a sério. Como os veículos menores representam boa parte do mercado mundial, o barateamento do componente por meio da liquidez de produção, de cara, já iria pelo ralo.

Sobraria então o mercado de luxo, acostumado a entregar carros robustos e a cobrar caro pela tecnologia de ponta. Mas mesmo as marcas maiores torceram o nariz quando viram os preços e o peso da novidade.

Suspensão bose
Até lembra um pouco uma suspensão comum, mas essa belezinha aí era cara e pesada

Para piorar, veio a crise econômica mundial de 2008 e o Sr. Bose foi obrigado a abandonar o projeto sem conseguir emplacá-lo em nenhum veículo de produção em série. Em 2017, quatro anos depois da morte do empresário pai da suspensão eletromagnética, a Bose vendeu a tecnologia para a ClearMotion.

A empresa, também baseada em Massachusetts, adaptou o sistema e segue em testes para tentar tirá-lo do papel. Mas para tornar comercializável, ela descartou de vez o pesado motor linear e aproveitou apenas o sistema de processamento na suspensão ativa que ela já pesquisava, que usa o princípio eletro-hidráulico, muito mais leve. Ainda assim, vai levar um tempo para o projeto vingar e chegar ao mercado.

O que já se sabe é que ele vai equipar primeiro as marcas de luxo e os veículos autônomos. Apenas em um segundo momento chegará aos carros populares.

Mais um pouco e o motorista do teste sairia com ferimentos graves

Futuro

Além da ClearMotion, outras empresas se dedicam a estudar uma nova suspensão ativa. A Vibracoustic, por exemplo, já vendeu um dispositivo muito parecido para a Porsche. A Audi decidiu eliminar atravessadores e está ela mesmo desenvolvendo um projeto, já em estágio avançado, que usa câmeras e inteligência artificial para mapear o caminho. A Mercedes criou o AirMatic, uma suspensão a ar inteligente, que também mapeia o terreno com câmeras. Mas, mais de 15 anos depois do primeiro protótipo da Bose, nenhuma chegou perto de impressionar o publico como fez Amar Gopal Bose.

Já era para estarmos pulando por aí com a nossa suspensão Bose

Publicada originalmente em

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