Em 19 de abril de 1985 a Ford apresentava uma nova versão do Escort XR3, o seu “popular esportivado” da época. Feito em parceria com a Karmann Ghia em São Bernardo do Campo, o modelo chegava ao mercado por uma pequena fortuna na época do cruzeiro: foi lançado por CR$ 72 milhões, valor que corrigido para os dias atuais daria algo em torno de R$ 265 mil.

A linha XR3 era o topo de linha do Escort na época. A Ford lançou inicialmente o Escort no Brasil em 1983. O mais básico era o “L”, depois vinha o “GL”, o “Ghia” e o esportivo “XR3”. Os mais básicos eram 1.4 e os dois últimos tinham motor 1.6 aspirado a álcool. Rendia 84 cavalos de potência, o que obviamente não o tornava um esportivo de verdade. Mas visualmente resolvia e todo jovem dos anos 80 e 90 sonhava com o veículo. Só sonhava, porque a renda no país era ainda mais escassa do que é atualmente.
O XR3 conversível, de 1985, era um desejo ainda maior e um sonho ainda mais inatingível. O XR3 Conversível acabou virando o carro de celebridades e jogadores de futebol daquela época. Ayrton Senna era o garoto propaganda da Ford na época e tinha um XR3.
No dia 18 de abril de 1985 o jornal OGlobo publicou que o XR3 Conversível custava 75% a mais que um XR3 convencional. Enquanto o convencional tinha teto solar, o Conversível tinha toda uma preparação feita pela Karmann do Brasil. Segundo a Revista Quatro Rodas de abril de 1985, o básico do modelo era montado inicialmente na Karmann, aí o modelo seguia para a fábrica da Ford para a preparação anti-corrosão e a pintura, voltava para a fábrica da Karmann para terminar a montagem e na sequência seguia de volta para a Ford finalizar e distribuir para sua rede de concessionárias. Entre essas idas e vindas o modelo rodava 33 quilômetros antes de ficar pronto, sendo que as duas fábricas estavam na mesma cidade: São Bernardo do Campo (SP).

Para quem já está se perguntando “quem compraria um Escort por R$ 265 mil”, é importante lembrar que estamos falando de um outro mundo, de 40 anos atrás. Havia poucas opções de carros em uma faixa mais alta. Importados só para quem era muito rico, afinal o mercado brasileiro só teve uma abertura para estes modelos na década de 90 – e contamos isso aqui. Em resumo: o XR3 habitava os sonhos possíveis apenas de uma classe mais alta.
Quando chegou no Brasil o XR3 Conversível já existia na Europa há quase 5 anos com muitas diferenças. O de lá tinha um motor também 1.6, mas que gerava quase 100cv de potência. O nosso, apesar do preço, vinha empobrecido: sem ar-condicionado, sem direção hidráulica, sem vidro elétrico. Este último item chegou apenas no modelo 1987, quando o Escort teve seu facelift e deu uma mudada na frente e traseira incorporando elementos mais ‘clean’ e melhorando um pouco o motor.
Em 1989 o conversível passou a ter comando automático (eletro-hidráulico) e também motor Volkswagen 1.8, o mesmo que o seu concorrente Gol GTS usava. Aí sim o carro ganhou um tom de esportividade na parte mecânica. A explicação da parceira com a VW é simples: desde 1987 a Ford e a Volkswagen eram sócias na Autolatina, uma empresa criada por elas para compartilhar custos de fabricação e manutenção.

Entre 85 e 89 o Escort XR3 Conversível foi feito nas cores Vermelho Mônaco (o mais clássico), Branco Ártico, Preto Ônix, Prata Geleé, Azul Royal. Na versão em que tinha motor 1.8 da Volks ele chegava também em amarelo, em uma cor que ficou popular porque o veículo aparecia na novela Top Model, da TV Globo, sendo usado pela personagem da atriz Malu Mader (veja abaixo uma das cenas).


Em 1992 o Escort mudou de visual. Era a segunda geração que incorporou um motor 2.0 da Volkswagen com injeção eletrônica – que a versão da Europa já tinha desde 1982.
A versão conversível deixou de ser produzida em 1995, um ano antes do final do XR3 convencional. Não houve substituto. Era o fim do primeiro, e até então único, conversível fabricado em série no Brasil.