A BYD terminou 2024 como a décima marca em volume de veículos emplacados no Brasil. Um feito e tanto considerando que ela é uma importadora e ainda não tem fábrica no país. As nove marcas na sua frente têm fábrica aqui e atrás dela ainda ficaram Peugeot, Citroën e Caoa Chery, marcas que estão aqui há anos e também são fabricantes. Apesar disso, a BYD terminou o ano com um fato grave na construção de sua fábrica na Bahia (leia mais abaixo).
Com os resultados de emplacamentos em 2024 a BYD se tornou a marca chinesa de maior êxito em um curto espaço de tempo no Brasil. Basta lembrar que a Chery, hoje estabelecida com uma sociedade com a brasileira Caoa, levou anos para ter um volume de emplacamentos que colocasse a marca entre os dez maiores do país. O resultado da BYD ainda é mais expressivo quando, pelos números divulgados pela Fenabrave, é possível observar que por menos de 2 mil carros ela não tomou o lugar da japonesa Nissan.
Apesar do ano brilhante em vendas, a BYD terminou 2024 com uma enorme crise para resolver. Uma fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego comprovou que um grupo de trabalhadores da construção da nova fábrica da empresa em Camaçari (BA) estava atuando em condições análogas à escravidão. Significa que a empresa mantinha trabalhadores em condições degradantes, à margem do que a legislação brasileira permite. As fotos incluídas na fiscalização destoam e muito da modernidade que a empresa propaga em suas publicidades.
Novas marcas de automóveis costumam passar por um perrengue para se estabelecer no Brasil. Foi assim nos anos 90, quando havia enorme desconfiança com as sul-coreanas, com os russos da Lada e com os franceses. Alguns conseguiram superar esses obstáculos, como a Hyundai que hoje atua no mesmo patamar de marcas que já estavam aqui décadas antes. Outras comprovaram o pré-conceito, como a própria Lada e a Asia Motors – ambas quebraram por aqui e sumiram do mercado deixando os compradores à mercê do mercado paralelo de peças.
Os chineses lutaram com os mesmos preconceitos quando chegaram aqui na década passada. A BYD parece ter entendido isso e chegou com uma fama de modernidade que seus veículos elétricos impõem, quase como uma “Tesla mais acessível”. Lição de casa do marketing feito, quase tudo certo, mas ofuscado com a lamentável ocorrência do trabalho escravo.
Em nota a empresa creditou os problemas à sua terceirizada, uma empresa chinesa. Aqui dois detalhes: de acordo com a legislação brasileira a terceirização não é uma desculpa para desconhecimento deste tipo de problema. Segundo, que o Governo da Bahia divulgou inicialmente um comunicado exaltando a nova fábrica e a geração de empregos na região de Camaçari. Fato é que novos empregos estão sendo gerados, mas o Governo sequer comentou o episódio da importação em massa de mão de obra chinesa.
Leia a nota da BYD emitida na época da autuação:
“Nesta segunda-feira (23), a BYD Auto do Brasil recebeu notificação do Ministério do Trabalho e Emprego de que a construtora terceirizada Jinjiang Construction Brazil Ltda havia cometido graves irregularidades. A BYD Auto do Brasil reafirma que não tolera desrespeito à lei brasileira e à dignidade humana. Diante disso, a companhia decidiu encerrar imediatamente o contrato com a empreiteira para a realização de parte da obra na fábrica de Camaçari (BA) e estuda outras medidas cabíveis. A BYD Auto do Brasil reforça que os funcionários da terceirizada não serão prejudicados por essa decisão, pois vai garantir que todos os seus direitos sejam assegurados.
A companhia determinou, na data de hoje, que os 163 trabalhadores dessa construtora sejam transferidos para hotéis da região. A BYD Auto do Brasil já vinha realizando, ao longo das últimas semanas, uma revisão detalhada das condições de trabalho e moradia de todos os funcionários das construtoras terceirizadas responsáveis pela obra, notificando por diversas vezes essas empresas e inclusive promovendo os ajustes que se comprovavam necessários.
‘A BYD Auto do Brasil reitera seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, em especial no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores. Por isso, está colaborando com os órgãos competentes desde o primeiro momento e decidiu romper o contrato com a construtora Jinjiang’, afirmou Alexandre Baldy, Vice-presidente sênior da BYD Brasil .
A companhia opera há 10 anos no Brasil, sempre seguindo rigorosamente a legislação local e mantendo o compromisso com a ética e o respeito aos trabalhadores.”