As montadoras Honda e Nissan anunciaram que analisam uma possível fusão que criaria o terceiro maior grupo automotivo do planeta. Nessa história ainda existem muitas questões. A principal delas é sobre a aliança que a Nissan possui com a francesa Renault e a também japonesa Mitsubishi. Turboway explica abaixo o que se sabe até o momento destas negociações.
Primeiro é preciso explicar o que é a aliança já existente entre Renault, Nissan e Mitsubishi.
O que é a aliança Renault-Nissan?
A aliança funciona de forma diferente que uma fusão, que é o que Honda e Nissan pretendem. Em uma fusão as marcas se juntam em uma única empresa e as marcas Honda e Nissan passam a ser produtos segmentados desta empresa, como Fiat e Peugeot fizeram há 3 anos.
Na aliança entre Renault e Nissan as marcas chegaram a um acordo, costurado pelo brasileiro Carlos Ghosn em 1999, onde as marcas continuaram como grupos independentes, mas a Renault passou a ser uma das donas da Nissan (inicialmente com 43% das ações) e a Nissan passou a ser uma das donas da Renault (com 15%). Em 2016 a Mitsubishi se juntou a esta aliança com a Nissan adquirindo 34% de suas ações.
Essa aliança passou a ser um caso de amor e ódio. De um lado a união com a Renault tirou a Nissan de um buraco financeiro que quase terminou em sua falência. De outro, os demais acionistas da Nissan pareciam não aceitar a influência estrangeira em seu território. Isso tudo resultou em uma investigação interna até hoje nebulosa que concluiu que o brasileiro Carlos Ghosn praticou fraude no comando da Nissan. Ghosn nega e diz que tudo isso foi resultado de uma armação.
O que é o anúncio de fusão de Honda e Nissan?
Feito às vésperas do Natal de 2024, o anúncio indica o desejo das duas marcas de se juntarem em uma só empresa. O foco é juntar duas das mais tradicionais indústrias japonesas para formar o terceiro maior conglomerado automotivo do planeta (atrás de Toyota e Volkswagen) e bater de frente com as marcas chinesas que estão em pleno projeto de expansão.
No ranking japonês de maiores grupos fabricantes de carros a Toyota lidera, seguida de Honda e logo depois a Nissan. Toyota e Honda são empresas com controle totalmente japonês, enquanto a Nissan compartilha um pedaço de seu comando com a francesa Renault. Então, como fica a fusão? A Renault embarca junto?
Qual o destino da aliança Renault-Nissan?
A Renault não embarcaria junto na eventual união de Honda e Nissan. Apesar de ter direito à voto na Nissan, a Renault não detém o controle majoritário da companhia. O projeto inicial da aliança fazia a Renault exercer um papel dominante na Nissan, mas em 2023 as empresas renegociaram esses termos e a Renault reduziu sua participação de 43% para 15% na empresa. Nessa renegociação a Nissan passou a ter direito de voto na Renault.
Ou seja, a renegociação dos termos pode até ser vista como uma manobra da Nissan que tornou possível uma fusão com uma concorrente da Renault. A Renault não se pronunciou sobre estes termos especificamente, mas como tem direito à voto, deverá se pronunciar oficialmente no processo quando as marcas concretizarem a fusão.
É complexo, mas se a fusão ocorresse hoje ela ficaria assim: Honda e Nissan formariam uma única empresa que teria os dois grupos como sócios e a Honda com uma maior fatia. A Renault não faria parte desta fusão como marca, ela continuaria sendo um grupo independente, porém teria ações na futura companhia. A porcentagem de cada um nesta nova empresa é o que ainda será discutido. A Renault pode também vender sua participação na Nissan antes deste processo de fusão.
A Mitsubishi tem hoje 1/3 de suas ações nas mãos da Nissan e ela deve ser levada para dentro da fusão com a Honda.
O ex-executivo de Renault e Nissan, Carlos Ghosn, já se pronunciou em agosto sobre essa possível fusão. Para ele o tal processo de fusão nada mais é do que uma compra disfarçada da Nissan pela Honda. Para Ghosn, como a Honda é a maior e mais poderosa que a Nissan, claramente será ela que vai comandar todo o processo.
O grande problema para a Renault e para a Nissan é que atualmente as marcas compartilham componentes, modelos, fábricas e motores. Com a fusão isso vai mudar de alguma forma. Esse é um dos termos que deve alongar as discussões sobre como Honda e Nissan vão se juntar e sobre como a Renault vai lidar com isso.
Veja o comunicado da Renault Brasil sobre o assunto:
O Renault Group tem conhecimento dos anúncios feitos hoje pela Nissan e pela Honda, que ainda estão em estágio inicial.
Como principal acionista da Nissan, o Renault Group considerará todas as opções com base no melhor interesse do Grupo e de seus stakeholders.
O Renault Group continua a executar sua estratégia e a lançar projetos que criam valor para o Grupo, incluindo projetos já lançados dentro da Aliança.