O acordo assinado entre Mercosul e União Europeia, após 25 anos de negociações, trouxe algumas questões sobre os preços de veículos no Brasil. Muitos se perguntam se o carro vai ficar mais barato no Brasil e quais modelos poderão circular por aqui a valores mais competitivos.
Primeiramente, é bom salientar que o acordo ainda não entrou em vigor, pois precisa ser aprovado da forma que está por 65% dos países europeus. Após aprovado, ele ainda irá ter um cronograma estabelecido com todos os detalhes e prazos. Ainda assim, a notícia já é um alívio para setores da economia.
Dos itens que ficarão mais baratos no Brasil, destaque para quatro deles: azeites, vinhos e queijos, importados a altos preços por causa da taxação de produtos que vêm de fora, e, obviamente, os carros.
Atualmente, praticamente apenas carros premium são vendidos por aqui diretamente da Europa. Sem falar das marcas europeias ‘populares’, como Fiat, Renault e Volkswagen, que são europeias mas bastante enraizadas no Brasil, com fábricas e produções locais muito grandes, uma boa parte de marcas de maior valor agregado ainda é trazida de fora.
É claro que temos a BMW fabricando 4 modelos no Brasil, como o Série 3, o X1, o X2 e o X3, além do anúncio do X5 híbrido plug-in, e temos a Audi fabricando a família Q3, mas são poucos os modelos. Grande parte ainda vem diretamente de alguma planta europeia.
Marcas de altíssimo valor, como Porsche, Volvo e por aí vai, preferem trazer os modelos prontos da Europa, embora tenham que enfrentar a alta taxação – paga pelo cliente, é claro – do que investir bilhões na fabricação local. Elas não vão investir, mas o cliente deixará de pagar pelo preço extra assim que as regras passarem a valer.
O acordo irá retirar a barreira de importação e 35% que tanto limita a compra de importados. Os veículos europeus ficarão muito competitivos contra os americanos, por exemplo, que continuarão a ser taxados por aqui. E também com os chineses. Para estes, resta trazer a fábrica para o Brasil, com o a BYD está fazendo, e escapar da taxação.
Se a taxação de 35% para os europeus, de cara, um Porsche Cayenne, fabricado na Alemanha e que custa quase R$ 700 mil, poderá sair por menos de R$ 500 mil.
É claro que poderá haver variáveis. Poderá existir alguma nova taxação para carros de alto luxo, ou qualquer coisa que seja permitida pelo acordo Mercosul-UE, portanto este é apenas um execício hipotético. É preciso esperar por todos os parâmetros do acordo para tirarmos todas as dúvidas.
O que se sabe é que as alíquotas serão retiradas gradualmente. Provavelmente de 5 em 5 pontos percentuais, e podem durar até 15 anos para serem completamente varridas. Só depois disso é que os preços ficarão realmente ‘puros’.
Para elétricos e carros a hidrogênio, o prazo é ainda maior. O governo brasileiro afirma ainda ter uma trava para evitar uma superpopulação de europeus nas nossas ruas – o que afastaria as fábricas e os empregos daqui, algo péssimo para a nossa economia.
Ainda assim, é possível imaginar que alguns modelos intermediários poderão chegar ao Brasil também, não apenas os mais caros. A Fiat pode, por exemplo, trazer o Fiat 500X, SUV que custa o olho da cara na atual taxação, mas que poderia ser posicionado entre os Jeeps Renegade e Compass, por exemplo. Apesar do custo de produção maior do que o daqui e do frete, ele ficaria mais competitivo para o consumidor daqui escolher.
A Fiat poderia ir além. Poderia trazer o Fiat Tipo Perua, carroceria praticamente extinta no Brasil, e que poderia facilmente ser reacomodada com o fim da taxação. Hoje não há mercado para uma montadora investir tanto dinheiro para fabricar um station wagon competitivo no Brasil. Mas há mercado para ela importar barato da Europa, por exemplo. Agrada a todos.
A Volkswagen poderia trazer a família ID elétrica, pelo menos para fomentar a eletrificação da marca, antes de tomar alguma decisão de fabricar os mesmos modelos por aqui. O ID.Buzz, hoje fabricado em Hannover, Alemanha, poderia custar só uma parte do absurdo que ele custa aqui. E se espalhar pelas ruas.
Sem contar o mercado de peças. Atualmente, quem compra um importado europeu, compra junto a manutenção europeia. Uma troca de peça simples sai caro porque as peças trazidas de fora sofrem a mesma taxação. Isso pode mudar. O aumento nas vendas de veículos prontos europeus poderia incentivar até a fabricação de peças no Brasil – e deixá-las ainda mais baratas. A conferir.
Será possível também marcas inéditas ou que andam sumidas reaparecerem. Que tal você voltar a comprar um espanhol Seat Ibiza, ou um inédito Škoda Fabia fabricado na República Tcheca? Hoje, ninguém pagaria caro para importar um desses por conta prória, mas no futuro ele poderá estar na loja mais próxima a um preço mais justo.