O carro deixou de ser um refúgio de quem quer se desligar do mundo exterior. Não basta fechar os vidros, ligar o som, e se desconectar. Você pode estar sendo monitorado agora. Carros conectados sabem tudo o que você esta fazendo: de acelerando forte a freando bruscamente e até traindo o(a) seu(sua) amado(a).
Os carros mais modernos já possuem câmeras e sensores que monitoram e registram tudo, desde movimentos oculares até o humor do motorista e dos passageiros. Estes dados estão sendo usados para alertar empresas de seguro sobre o comportamento dos clientes. Também podem ser utilizados pelas autoridades para a avaliação de acidentes. E o pior é que por enquanto não dá para fazer muito a respeito.
Uma luta está sendo travada entre os defensores da privacidade e os tomadores de dados. Em setembro de 2023, o projeto *Privacy Not Included (*Privacidade Não Incluída), da Mozilla Foundation, denunciou que os carros conectados estão vindo com excesso de sensores, e estão coletando dados pessoais exageradamente, mesmo na comparação com outros aparelhos modernos, como celulares.
Segundo o projeto, os carros conectados são a pior categoria de produto verificada por eles. “Cada uma das 25 marcas de automóveis de 15 montadoras ganhou nosso selo de aviso *Privacidade não incluída, o que é uma novidade”, disse Jen Caltrider, pesquisadora-chefe da Mozilla.
E o pior é que acontecimentos recentes confirmaram as acusações do projeto. Em março de 2024, o prestigiado The New York Times publicou que montadoras estavam compartilhando dados para companhias de seguros. Motoristas viram o preço do seguro disparar e depois foram alertados que dados estavam sendo recolhidos pelo OnStar, serviço da General Motors.
A GM alegou que o recurso previa a coleta de dados, como de aceleração rápida, frenagem brusca e direção acima dos 130 km/h. Mas a empresa negou que os dados estivessem sendo vendidos ou compartilhados com empresas de seguro. Após a publicação do artigo, a GM emitiu um comunicado à imprensa informando que descontinuaria o serviço Smart Driver e encerraria seu relacionamento com LexisNexis e Verisk, empresas que recolhiam os dados.
Outra conclusão do Mozilla é que as montadoras podem potencialmente capturar atividade seual dentro dos veícuos. “Isso nos assustou, embora os pesquisadores não tenham conseguido determinar exatamente como as montadoras coletariam esses dados, não é difícil para as câmeras e sensores coletarem as informações necessárias”, disse a pesquisdora.
Depois da revvelação, o Kia Connect Services e a Nissa USA removeram das linhas de rodapé da politica de privacidade online a possibilidade de coletar informações sobre atividade sexual de seus clientes. Sim, existia isso no termo de consentimento, nessas palavras.
A privacidade de dados é discutida em âmbito federal nos EUA. Enquanto isso, há pouco o que o consumidor possa fazer para proteger seus dados em veículos conectados. “Você pode fazer coisas como não baixar o aplicativo de um carro. Acho que a melhor coisa que os consumidores podem fazer é pressionar por uma lei federal de privacidade forte e focada no consumidor. Não temos um, mas a Europa tem”, concluiu Jen Caltrider.