Os motores de carros possuem um certo padrão de posicionamento por um motivo mais do que sensato. Em geral, as peças que mais trabalham, como pistões e virabrequim, ficam posicionadas embaixo, enquanto que peças mais orbitantes ficam acima, no cabeçote, por exemplo. O motivo principal é a gravidade. A lubrificação segue um caminho de queda, percorrendo peças, até atingir o cárter, uma espécie de fundo do poço, e subir novamente pela bomba de óleo. Sempre foi assim, não importa se em um I4 ou em um W12.
Mas até que veio a Ferrari, talvez uma das mais admiradas marcas de carro do mundo, e mudou a maneira como pensamos. A montadora italiana acaba de patentear um desenho de motor que inverte a lógica, colocando pistões na parte de cima e todas as peças do cabeçote na parte inferior.
O motivo não é simplesmente ser do contra e criar uma maneira forçada de inovação. Tem lógica. Primeiramente, este não é um motor convencional. Trata-se de um futuro motor híbrido a hidrogênio. Em poucas palavras, o hidrogênio fará o papel da gasolina e movimentará as peças mecânicas, que por sua vez serão transmitidas para as rodas, percorrendo o caminho tradicional da distribuição de força motriz.
Acontece que para alimentar este motor haverá quatro tanques de hidrogênio, dois deles posicionados bem próximos ao topo do motor. Por causa da proximidade, achou-se melhor, pelo menos no projeto de patente, inverter o motor do carro.
Para tal façanha, a Ferrari teria que criar 3 ou até 4 bombas de óleo e instalar um cárter a seco. O desafio de engenharia é maior ainda. É preciso evitar o chamado hidrotravamento. Isso pode ocorrer se o óleo não for totalmente sugado do bloco e acabar infiltrando nos cilindros, quando desligarmos o carro, por exemplo. Como não há gravidade que ajude, ou a bomba funciona bem ou as coisas sairão do controle. Nada que uma das maiores fabricantes do mundo não tire de letra.
A Ferrari está disposta a ir mais longe. Além do motor híbrido invertido, ela criou outras duas patentes alucinantes. Uma delas é a de uma caixa de transmissão de dupla embreagem e sete marchas (nada novo até aqui), mas cuja conexão se dá diretamente no virabrequim! E também um turbo que alimenta um gerador, que por sua vez alimenta o turbo principal. É o turbo do turbo…
A Ferrari não tem planos ainda para colocar todas essas ideias malucas em prática. Mas é certo dizer que uma das mais conceituadas empresas de automóvel do mundo está longe de querer viver da fama e, muito menos, do passado.