A relação entre montadoras e trabalhadores nunca foi um marasmo. Aqui no Brasil, desde as grandes greves no ABC Paulista, nos anos 70 e 80, passando pelas mobilizações mais recentes, sempre houve algum tipo de atrito, com ganhos para os dois lados. Fora do Brasil não foi e não é diferente. E os olhos da Stellantis estão voltados para a negociação com a UAW, o sindicato americano dos trabalhadores em montadoras.
Em coletiva de imprensa na última sexta, em que apresentou aos investidores e à imprensa os resultados da Stellantis no primeiro semestre, o CEO da Stellantis, Carlos Tavares, citou o acordo em andamento com o sindicato americano. Foi um momento em que ele até parou a leitura de slides para tecer algumas palavras de improviso.
“Temos pessoas experientes negociando as demandas dos sindicatos. Já demonstramos isso na Alemanha com a IG Metall (maior sindicato alemão), na França com a CGT, na Itália com a UIL”, disse. “Sentamos à mesa para fechar acordos mantendo a competitividade para a empresa e trazendo mais benefícios aos trabalhadores”, completou.
O acordo com o sindicato dura 4 anos e vence em setembro. É praticamente uma corrida contra o tempo até se chegar a um bom acordo para ambas as partes. Caso a Stellantis fracasse nas negociações, é possível vermos notícias de greves nos EUA. A aguardar.
Carro elétrico a US$ 25 mil
Tavares acredita que um preço razoável do carro elétrico seja o de US$ 25 mil, um pouco acima dos modelos mais baratos de carros a combustão atuais. Essa é a meta de preços para garantir que a classe média possa consumir o modelo em alta escala, garantindo os bons resultados para as fabricantes. Ele citou alguns alvos para chegar a esse preço: otimizar a produção e garantir menores preços em baterias, por exemplo.
Mas é possível afirmar que os trabalhadores também estão nesta conta. A folha salarial é parte dos custos da produção de um carro. A depender das negociações na América do Norte, os preços podem ficar pressionados, fazendo com que a empresa tenha que mexer em outras alavancas da produção.
Durante a apresentação também teve autocrítica. Tavares admitiu que a Jeep errou a abordagem de marketing nos EUA e isso resultou em baixa de 12% nas vendas. As vendas do Wrangler caíram 15% e do Grand Cherokee, 7%.
A esperança da Stellantis é recuperar mercado entre os eletrificados. Os dois modelos híbridos mais vendidos nos EUA são do grupo: o Wrangler 4xe e o Grand Cherokee, que, apesar da queda, se mantém na vice-liderança entre os híbridos. Falta dar um passo além e avançar sobre os puramente elétricos.