Esqueça as várias estações de produção. Esqueça o gigantesco espaço para circulação de pessoas e de peças. A Ford vai mudar a maneira habitual de fabricação de carros com a nova unidade que está sendo erguida nos Estados Unidos por 5,6 bihões de dólares – cerca de R$ 28 bilhões.
A fábrica BlueOval City, no Tennessee, até vai ser grande. Será a maior que a Ford já construiu. Mas poderia ser ainda maior. Prevista para entrar em operação em 2025 e com capacidade para produzir 500 mil veículos elétricos, a unidade será 30% menor do que outras com capacidade semelhante.
A Ford conseguiu otimizar o espaço ao criar a fábrica ao mesmo tempo em que desenvolve o produto que será construído no local, uma picape elétrica totalmente nova, por enquanto chamada de Projeto T3.
“Quando você entrar, não vai se sentir como uma fábrica em que você já esteve antes”, disse Lisa Drake, vice-presidente de industrialização de veículos elétricos da Ford, ao Automotive News. “Nossa meta era realmente construir este caminhão com mais eficiência do que o melhor caminhão que construímos – e construímos caminhões muito bem.”
A principal otimização será a redução no número de estações de trabalho. A fabricação será mais simplificada porque a montadora irá reduzir as configurações que são oferecidas atualmente aos clientes. O objetivo é reduzir em 8% o número de peças e fundições. Já o número de fixadores cairá pela metade.
“Fizemos alguns trabalhos de engenharia de sistemas onde, essencialmente, pegamos peças da caminhonete e reduzimos o conteúdo do projeto, tornando-o um projeto muito mais enxuto, com menos ferramentas e menos pessoas necessárias para instalar”, disse Jim Farley, CEO da Ford.
Outra economia será na oficina de pintura, em geral um dos setores mais caros de uma fábrica de carros. A unidade será mais vertical do que horizontal, nas palavras da montadora, que não forneceu detalhes.
Outra inovação será de caráter ambiental. A Ford pretende reduzir o consumo de água na ordem de 50 milhões de galões por ano, além de reduzir a evaporação das torres de resfriamento. “Estamos voltando a como Henry Ford montou a linha de montagem”, disse Farley. “Nós vamos fazer mais disso nós mesmos.”
Fábrica virou motivo de preocupação no sul dos EUA
Em vez de trazer expectativa e orgulho para moradores, a criação da fábrica da Ford virou preocupação para a pequena Stanton, de apenas 452 habitantes, menos do que Serra da Saudade/MG, menor cidade do Brasil, com seus 800 moradores.
A cidade americana é tão pequena que a chegada da montadora deve mudar para sempre sua alma tranquila. Só em postos de trabalho a Ford promete abrir 6 mil vagas, 13 vezes mais do que a população local.
Com tanta gente chegando para morar na cidade, o único restaurante local se vê obrigado a contratar mais empregados. “Muitos moradores se aposentaram aqui em busca de uma vida mais tranquila, livre da criminalidade. E tudo pode mudar”, alerta Lesa Tard, dona do Suga’s Dinner, restaurante com classificação 4,7 no Google, e que fecha às segundas e quintas-feiras. Apesar do tamanho, Stanton tem 4 igrejas e 3 cemitérios.
A opção por se distanciar da sede, no Michigan, se dá por razões financeiras. Os terrenos e a mão de obra no Tennessee são mais baratos, e o governo local oferece incentivos fiscais. Outro estado que deve receber investimentos da Ford é o Kentucky. Ao lado de uma parceira coreana, a gigante americana deverá levantar duas fábricas de baterias.