Em mais de 70 anos de Fórmula 1 a Porsche não atingiu seu objetivo de entrar na competição de maneira competitiva. A última tentativa de entrar na F1 em 2026 não deu certo, mas nesse texto conto como foi a última passagem da montadora alemã pelas pistas da F1 e que foi algo que certamente a Porsche quer esquecer.
A Porsche já teve três passagens pela F1. A primeira nos primórdios, como fornecedora de motores. A segunda em com sua própria equipe em 1961 e que foi breve, encerrando sem deixar sua marca em 1962.
A montadora alemã voltou ao grid em 1991 em uma passagem que é um conjunto de esquisitices que só os anos 90 podem nos proporcionar. A história começa na ascensão de uma empresa japonesa de entregas e termina na mesma curva onde morreu Senna.
Dos correios para a F1
Nos anos 80 um empresário japonês chamado Wataru Ohashi ficou milionário criando um serviço de entregas em seu país. Ele criou uma rede entre várias empresas já existentes e dominou o serviço de correios no Japão. Essa empresa se chamava “Zen Nippon Ryutsu” e depois foi rebatizada de “Footwork”.
Os negócios de Ohashi se expandiram e a Footwork chegou a atuar até mesmo como construtora. Em 1986 ela chegou a ser listada na Bolsa de Osaka.
Os planos de Wataru Ohashi envolviam entrar para o automobilismo. Começou investindo na Fórmula 3000 em 1988 e em 1990 o salto foi para a Fórmula 1, segundo o site Grand Prix. Aí que o caminho de Ohashi cruzou com o da Porsche.
O japonês e a Porsche
Wataru comprou a equipe Arrows, que disputou a temporada de 1990 com o antigo nome. A transformação da equipe para Footwork veio em 1991, com o empresário procurando fornecedores de motores para seus carros.
Contam os engenheiros da época que Wataru tinha propostas da Ford e da Porsche para o fornecimento de motores, e que ele não pensou duas vezes ao saber que a montadora alemã estava disposta a fornecer seu conjunto para os carros da Footwork. Nascia aí o modelo Footwork FA12, um dos maiores micos da história da F1.
Os pilotos da Footwork eram italianos. Michele Alboreto, experiente piloto vindo da Ferrari e Alex Caffi, que naquele momento tinha 76 GPs na bagagem.
Era uma equipe originalmente inglesa comandada por um japonês, pilotos italianos e mecânica alemã. Ninguém falava a mesma língua, literalmente. E isso ficou claro no desenvolvimento do carro. Porsche e Footwork não conseguiram desenvolver o conjunto que planejavam e as duas primeiras corridas foram com os carros da temporada anterior.
Problemas e chacota
O atraso na entrega do motor foi porque o conjunto mecânico da Porsche era muito grande para o carro e os engenheiros passaram o início de 1991 reprojetando o veículo para receber o motor V12. Quando o motor chegou a coisa piorou: ele não era só grande demais, mas também muito mais pesado e lento que os concorrentes.
Naquele ano a primeira disputa acontecia nos Estados Unidos e a segunda no Brasil. Esses dois GP’s foram vencidos por Ayrton Senna, que acabaria como o campeão daquela temporada.
O que pouca gente sabia na época, e isso foi contado pelo site MotorSport em sua versão em inglês, é que o projeto da Porsche já tinha sido motivo de chacota na McLaren três anos antes.
Steve Nichols, então engenheiro da McLaren, contou assim a história: “um dos engenheiros da Porsche tirou de uma maleta o que era um layout do motor. Eu apenas olhei para aquela coisa e pensei ‘que bizarro!’. Era como se eles tivessem pegado dois de nossos motores V6 e os unido. Era largo, muito alto e comprido”. Assim que saiu da reunião, Steve teve um encontro com Ron Dennis, chefão da Mclaren na época: “Assim que vi aquilo, saí da reunião e disse à Ron Dennis: assine o contrato da Honda, aquilo não tem futuro”.
Não teve futuro mesmo. No primeiro GP da temporada os dois pilotos ficaram de fora por não obter tempo mínimo para a classificação e na segunda corrida apenas Alboreto conseguiu disputar a corrida e ainda abandonou na volta 41.
GP de San Marino, 1991
Foi a corrida em que a Footwork-Porsche estreou enfim o novo motor, mesmo que lento. E essa estreia ficou marcada por um acidente grave no treino.
Michele Alboreto testava seu carro quando passou direto na curva Tamburello. O acidente de Alboreto tem semelhança impressionante com o que matou Ayrton Senna três anos mais tarde no mesmo local. Veja abaixo:
Felizmente o piloto teve apenas ferimentos na perna e conseguiu sair andando do veículo.
O motor Porsche durou apenas seis corridas na Footwork. Depois ele foi substituído pela segunda opção que a empresa tinha, o conjunto da Ford.
A Footwork continuou por alguns anos ainda na F1 e conseguiu seu primeiro pódio apenas em 95, no GP da Austrália. Em 1996 a equipe voltou a mudar de mãos e voltou a se chamar Arrows. O conglomerado japonês Footwork faliu em 2001.
Michele Alboreto se aposentou da F1 na temporada de 1994 e faleceu em 2001 em um acidente em um carro da Audi na Alemanha que estava em teste para a tradicional prova automobilística francesa “24 horas de Le Mans”. Já Alex Caffi voltou a pilotar em 2012. Acredite, na Fórmula Truck brasileira.