O barulho da porta do carro batendo é fake

Você leu direito. O som que toda porta de carro faz ao fechar não é natural nem aleatório. Ele foi criado seguindo os princípios da psicoacústica, que nada mais é que o estudo da reação psicológica e cognitiva aos sons.

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Traduzindo, engenheiros chegaram a um padrão sonoro que traz satisfação ao cliente. A gente não percebe, mas nosso cérebro capta o som da batida e o transforma em sensações. Ao fechar a porta e ouvir o som certo, a mente se satisfaz. Se o som saiu diferente do normal significa que ela não fechou direito e o cérebro, insatisfeito, manda a gente checar o que aconteceu.

Esse padrão de som de portas batendo que ouvimos todos os dias surgiu há décadas e foi mantido, mesmo com o avanço dos materiais dos carros e dos acabamentos mais refinados. Ou seja, era possível a fabricante ter eliminado completamente o som, abafando o encontro entre as peças e tornando a nossa entrada no carro muito mais silenciosa. Porém a indústria preferiu manter o poético som do fechar das portas que conhecemos, colocando as devidas peças que forçam o barulho. Um dos motivos foi o temor de perder vendas.

Toda porta foi projetada para dar satisfação ao motorista, acredite ou não

A psicoacústica é algo de muito valor na indústria automotiva. Milhões de dólares são gastos apenas para estudar que tipo de sons agradam mais na conquista do cliente, desde que ele entra no carro (aqui vai mais uma porta batendo), até a hora que ele faz um test drive. Em alguns casos os vendedores são incentivados pela montadora a ligar o painel na presença do cliente, porque ali vão sair sons projetados para fisgar o comprador.



“O som gera um senso de valor subconsciente”, afirma Jonathan Berger, professor de música no Centro de Pesquisa de Música e Acústica na Universidade de Stanford, Estados Unidos.

O professor fez um experimento com os alunos. Eles teriam que ouvir 8 sons diferentes e dizer qual deles seria o do carro mais caro. E todos chegaram à conclusão que o carro com maior valor apresentou um som de frequência baixa e com um pequeno som posterior à batida, milimetricamente pensado pela empresa que o criou.

Em uma entrevista em 2014, Tobias Beitz, chefe de qualidade de som e design da Mercedes, disse que os carros de 2020 teriam o mesmo som de batida de porta dos de 2008, pois eles já haviam chegado ao modelo ideal. “O som da porta é garantido principalmente pelo design acústico ideal da estrutura da porta, travas e vedações”, revelou.

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Engenheiro testando o som da porta, décadas atrás

Todo som importa

O momento de dar a partida também é levado a sério. Cada montadora criou o seu padrão de ignição para motores a combustão. Os ouvidos mais treinados vão saber de qual montadora é tal veículo apenas ouvindo o som da partida. Sem contar também o ronco do motor, que atrai os mais entusiastas pelo assunto.

Outros sons são levados em consideração: o som da seta ligada, o barulho do vidro abrindo ou fechando, da alavanca do câmbio automático deslizando, tudo é projetado de uma maneira que satisfaça – ou pelo menos não desagrade – o dono do veículo.

Futuro

Silenciosos, os motores elétricos estão aos poucos acabando com o charme do som de motor a combustão. Mas se depender dos engenheiros de som, isso pode mudar. Parte dos estudos nas montadoras é para acrescentar algum tipo de som ao veículo elétrico em movimento. E que seja progressivo, a medida em que se acelera, mais alto quando a ‘rotação’ estiver no ápice e que sirva também de alerta a pedestres distraídos, que podem não perceber a chegada repentina de um carro silencioso.

E podem ficar tranquilos porque a buzina não vai sair de cena tão cedo.

Não é esse tipo de batida de porta que estávamos nos referindo

Publicada originalmente em

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