A notícia das mortes do influenciador catarinense Jesse Koz e de seu cão Shurastey a bordo do Fusca Dodongo, no EUA, causou comoção no Brasil. Inseparáveis, eles abasteciam as redes sociais com a longa e memorável viagem até o Alasca, interrompida a 3.700 km do fim, pouco, perto dos 85 mil que eles já haviam rodado desde a saída do Brasil, em 2017.
Nestes cinco anos, foram muitos perrengues, todos devidamente relatados por Jesse nas redes sociais. Só de mecânico foram várias as paradas – e os gastos com o Fusquinha 1300L ano 1978.
Um dos principais problemas para eles – e para quem faz essa viagem – é que não existe uma ligação completa do extremo sul até o extremo norte do continente.
Justamente no meio do caminho, na ligação da América do Sul com a América Central, há um ‘apagão’ na Rodovia Pan-Americana. A estrada termina na Colômbia em uma grande floresta que faz fronteira até o Panamá.
É a selva de Darién, com seus mais de 160 quilômetros de comprimento. E além das árvores, existe o problema da altitude. Todo o trecho é bem recortado geograficamente por morros e precipícios.
Até existe a possibilidade de se embrenhar de carro pelo trecho selvagem e se aventurar por estradinhas de terra. Mas os riscos são grandes. Fora a presença das Farcs, que até 2017 dominavam a região, inclusive sequestrando quem tentasse passar pelo trecho por terra.
A alternativa de 99,9% dos viajantes é cruzar pelo mar. Mas também não é fácil. Até alguns anos atrás, existia o serviço de transporte marítimo. Você embarcava com seu carro e, por algumas centenas de dólares, eles te deixavam no Panamá. Mas este serviço foi descontinuado e a opção agora é pagar para despachar o carro em cargueiros – comprando espaço num contêiner – e seguir para o continente ou em veleiros ou por avião. O custo total, entre despachar o carro e pagar pela passagem de avião ou barco, pode passar dos 3 mil dólares.
Jesse e Shurastey fizeram a travessia de veleiro, enquanto o Fusca Dodongo foi embarcado, no único momento da viagem em que o trio se separou.
“Talvez tenha sido a parte mais complicada da viagem até aqui, mas também foi uma das mais bonitas que eu já vi! Cruzar o Caribe e conhecer lugares fantásticos foi incrivelmente lindo! Toda a dificuldade de cruzar o fusca para o Panamá, todo o estresse, todo o dinheiro gasto, foi bem complicado, e tudo porque não existe uma estrada ligando-nos dois Países! Muitos dizem que é por questões ambientais, indígenas, pelas dificuldades de se construir uma estrada no tapon de Darien, mas vamos sem bem sinceros né, os cara cortaram o Panamá no meio pra fazer o Canal”, reclamou Jesse em post no Instagram.
De fato, as questões ambientais sempre foram desculpas para a não conclusão da ligação rodoviária. Mas a verdade é que para o Panamá é comercialmente viável explorar tanto o canal do Panamá quanto as rotas marítimas e aéreas com a América do Sul. Além disso, os EUA foram fortes barreiras contrárias à ligação, temendo uma maior circulação de drogas proveniente da Colômbia em território americano. Como se os cartéis não fossem encontrar outras maneiras de enviar as drogas…
Foi durante a travessia para o Panamá que Jesse se viu pensando no que fazer da vida depois de completar a jornada. “Tava eu dirigindo pensando no futuro, na possível reforma do Fusca, e no que eu iria fazer depois do Alaska. Não penso muito sobre isso, tenho algumas ideias mas deixo as coisas acontecerem.”
Se você se interessou pela história da rota terrestre na selva de Darién, a BBC fez a travessia em 2018, partindo do Panamá.