A situação da Renault na Rússia já andava delicada, conforme dissemos em fevereiro. A empresa francesa é dona de 68% da Lada, a montadora russa líder de vendas no país que declarou guerra à Ucrânia. E entre os sócios da Renault está o governo francês. Entre os sócios da Lada, o governo de Vladimir Putin, lados opostos no conflito.
Sabendo da situação contraditória, a Renault quer se livrar da Lada, custe o que custar. E pode custar caro, bem caro.
A Renault já estima perder 3,1 bilhões de euros, mais de R$ 16 bi para se desfazer do negócio. E a Renault tem pressa. Ela não quer vender suas ações, mas repassar a algum interessado. Quase uma doação mascarada como transferência de propriedade.
A transferência faria com que a Renault deixasse imediatamente qualquer responsabilidade legal sobre os 45 mil empregados da Lada em solo russo. Eles estão atualmente sem trabalhar, à espera de uma solução.
Caso a Renault optasse pela venda, ela diminuiria o prejuízo, porém levaria meses para conseguir a conclusão da operação, já que entram em cena diversos mecanismos de auditoria e de fiscalização governamentais.
No caso de uma venda, a compradora enfrentaria outras barreiras, como ter que discutir publicamente suas intenções de capacidade de produção, de investimentos e fazer garantias sobre os empregos, o que também demora.
Para piorar a situação da Renault, ela não pode simplesmente passar as ações para a Rostec, empresa estatal russa detentora da outra parte da Lada. É que a Rostec está sob sanções ocidentais por causa da guerra.
A Renault ainda tem que decidir o que fazer com a planta dela em Moscou. A fábrica pertence somente a ela, é desvinculada das operações da Lada. Pouco antes da guerra, a planta foi modernizada com muito dinheiro francês e uma doação está descartada.