Desde táxis, carros particulares e policiais, quase todos os veículos da frota afegã foram fabricados pela Toyota, inclusive os utilizados por grupos terroristas.
Observe a imagem abaixo, é a foto do trânsito quando existiam dias normais no Afeganistão. O trânsito caótico e cheio de veículos bem velhos é o retrato de um país devastado por anos de conflitos entre forças americanas e o Talibã. Quase todos os carros na imagem foram fabricados pela Toyota, a marca mais popular no país.
O Afeganistão vive uma situação lamentável após a saída de tropas americanas e a invasão rápida das cidades pelas tropas do Talibã. O país vivia uma espécie de “intervenção americana” desde 2001, quando as tropas dos Estados Unidos iniciaram a expulsão do governo Talibã sob acusação de que este grupo financiava a Al Qaeda, grupo terrorista que assumiu a autoria dos atentados contra os Estados Unidos em 11 de setembro de 2001.
O que ocorreu no Afeganistão parece não ter sido uma situação tão difícil de ser imaginada. Na ocasião de lançamento do novo Toyota Land Cruiser, no começo de agosto, o site japonês Creative 311 revelou que a Toyota inseriu uma cláusula no contrato de venda do novo veículo proibindo os compradores de revender o veículo em um prazo de um ano.
A razão da Toyota em inserir esta cláusula está relacionada com o contrabando deste tipo de veículo para grupos extremistas, como o Talibã, que retomou agora o território afegão. Em outras palavras, a Toyota está acompanhando de perto o caminho de seus veículos para evitar que eles parem nas mãos de pessoas erradas, como já aconteceu no passado.
Duráveis e não discretos
Mais de 80% dos veículos que rodam no Afeganistão são da Toyota. De um lado está o o marketing positivo, onde se destaca o Toyota Corolla como o preferido da população local. E quando se relacionam as razões desta preferência, são diretamente citadas a durabilidade e a economia dos veículos da marca.
De outro lado está a fonte de preocupação da Toyota, que são carros como o Toyota Land Cruiser (herdeiro do carro que aqui no Brasil foi batizado de Bandeirante). Assim como o Corolla lidera a preferência da população, as caminhonetes e jipes da Toyota lideram a preferência do grupo Talibã, como relatado desde 2001 pelo jornal americano The New York Times. Eles são veículos robustos para enfrentar o terreno afegão e possuem ar-condicionado para enfrentar as altas temperaturas no país.
Segundo o site Quartz, fonte de notícias empresariais, o Talibã criou uma frota de Hilux e Land Cruiser adaptados com armas anti-aéreas. Essa preferência pelos veículos vem desde a primeira invasão do palácio do governo afegão pelo Talibã, em 1996. O jornal The New York Times narrou, em 2001, que os carros da montadora conferiam status entre os líderes da organização, sendo que o Land Cruiser ocupava o topo desta preferência.
Rede de contrabandistas
O ponto principal é que estes veículos chegam a estes grupos por uma rede de contrabando financiada pela venda do Ópio. Em 2015 o governo norte-americano perguntou à Toyota como o grupo Estado Islâmico conseguiu comprar tantos carros da marca para transformá-los em carros de guerra.
Pior do que o Talibã, o Estado Islâmico começou a utilizar os veículos em vídeos, como uma demonstração de força. A montadora afirmou à época que não sabia como os carros foram parar nas mãos do EI, já que a empresa não possuía registros de venda para os locais onde os veículos estavam rodando. Foi aí que se concluiu a existência de redes de contrabandistas de carros.
Segundo a rede de tv americana ABC, não é tão difícil saber a origem dos veículos. Mais de 800 carros deste tipo sumiram da Austrália entre 2014 e 2015. Entre 2011 e 2014 o Iraque teve um crescimento enorme de vendas destes veículos. O Iraque e o Afeganistão são separados pelo Irã ao centro e toda a fronteira é terrestre.
Matriz acompanha de perto
Fato é que a Toyota não tem qualquer relação com estes grupos e demonstrou ao Governo dos Estados Unidos que nenhum de seus revendedores forneceu os veículos diretamente a eles. As restrições de venda do novo Land Cruiser japonês têm como objetivo evitar que mais este modelo caia nas mãos destas pessoas, sobre isso a montadora se manifestou no Japão:
“A Toyota tem uma política rígida de não vender veículos a compradores em potencial que podem usá-los ou modificá-los para atividades paramilitares ou terroristas, e temos procedimentos e compromissos contratuais em vigor para ajudar a evitar que nossos produtos sejam desviados para uso militar não autorizado.
No entanto, é impossível para qualquer montadora controlar canais indiretos ou ilegais pelos quais nossos veículos possam ser desviados, roubados ou revendidos por terceiros independentes. Temos o compromisso de cumprir integralmente leis e regulamentos de cada país ou região onde operamos e exigimos que nossos revendedores e distribuidores façam o mesmo. Estamos apoiando a investigação mais ampla do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos sobre as cadeias de suprimentos internacionais e o fluxo de capital e bens no Oriente Médio”