Potencial de investimentos dependerá de decisões de políticas públicas sobre eletrificação e incentivo uso de energias renováveis.
Um estudo encomendado pela Anfavea, associação dos principais fabricantes de carros do país, aponta que o Brasil tem potencial de investimentos de R$ 150 bilhões nos próximos anos apenas para a descarbonização da frota, ou seja, em eletrificação e uso de energias renováveis.
Este é o valor total máximo de investimentos e inclui tanto produção de modelos quanto a infraestrutura necessária. Seria o melhor dos cenários, aquele em que há incentivos governamentais, com políticas públicas voltadas, de fato, para a descarbonização. Mas para chegar lá há um bom caminho a se percorrer (veja abaixo).
Descarbonização da frota: momento é agora
O estudo da Anfavea sai ao mesmo tempo em que o mundo aperta o cerco contra as mudanças climáticas. Esta semana a ONU apresentou um relatório sobre o clima nada animador. Até 2050, a temperatura do planeta irá aumentar, não importa o que seja feito agora. Os impactos também serão sentidos aqui no país, com eventos extremos frequentes.
O relatório da ONU também trouxe um alento. Ainda não atingimos um ponto sem volta na emissão de carbono. Ou seja, é possível reverter essa situação e salvar o planeta se agirmos agora.
Como o Brasil pode ajudar e recuperar o atraso? Uma das possíveis saídas é fazer uma transição. Empresas de todos os setores devem começar o quanto antes a mudar procedimentos e a reduzir suas emissões. Muitas já fazem, como a Ambev, que apresentou meta de reduzir suas emissões em 25% até 2025, ou a JBS, que anunciou a intenção de zerar suas emissões até 2040.
Com o mercado automotivo não é diferente. Este é um setor que historicamente é tratado de vilão, por trabalhar por décadas com uma matriz puramente poluidora. Mas, ao mesmo tempo, possui um potencial econômico gigantesco, com possibilidade de lucros também por décadas, com a transformação para a eletrificação.
De onde vem o investimento
Tudo depende do caminho a ser escolhido, mas o potencial de investimentos é praticamente todo privado e inclui a produção nacional de veículos híbridos e elétricos (tanto de modelos leves ou pesados), construção de fábricas de baterias e semicondutores.
Outro potencial anima setores já instalados no país: os produtores de biocombustíveis. É que o etanol também faz parte do rol de descarbonização, não só como ele é agora, mas também no uso em células de hidrogênio, que deve levar uma fatia do mercado futuro, ainda que muito menor do que o baseado em baterias de lítio.
Descarbonização da frota: Cenários
O estudo da Anfavea mostra que existem 3 cenários possíveis para o Brasil na próxima década e meia.
No pior, onde não há nenhum incentivo governamental, o mercado entraria em inércia, ou seja, seria empurrado por um movimento já global e inevitável. Neste caso, chegaríamos a 2035 com apenas 32% das vendas de veículos leve e 14% de caminhões e ônibus elétricos ou similares. Os modelos flex e a diesel continuariam seu domínio, ainda que menor.
O segundo cenário, de convergência global, colocaria o país em níveis europeus, com amplo fomento para a eletrificação. Atingiríamos em 2035 os mesmos níveis da Europa de 2030, com 62% das vendas anuais partidos de modelos não poluentes.
O terceiro cenário seria um fomento maior para os biocombustíveis, com foco no etanol. Seria um cenário de menores investimentos e menor queda de emissões, com 30% de redução, contra 39% do segundo cenário e 37% do primeiro.
A posse de bola está com os governantes
Para que os investimentos sejam aplicados pelo setor privado, tudo irá depender da ação do governo. E não deste ou daquele governo, mas sim de uma política de estado.
Exemplos não faltam. A Europa já demonstrou os possíveis caminhos, indicando que os governos possuem capacidade de alterar o destino. E isso não apenas com incentivos e renúncias fiscais, mas também com leis que imponham metas e prazos. Depender apenas da vontade empresarial, infelizmente não será suficiente. O planeta tem pressa.